domingo, 24 de junho de 2012

Elas também gostam de futebol


As quatro linhas do gramado verde e adjacências sempre foram um território tipicamente masculino. Nas arquibancadas e em frente aos mais diversos modelos de televisão ou rádios de pilha, o personagem mais comum eram os homens, marrentos, revoltados, aguerridos e apaixonados pelo seu time. Mas esse cenário está mudando.

Não só dentro de campo, onde meninas, como a jogadora Marta faz maravilhas com a bola no pé, nas arquibancadas e diante das TVs, a mulherada está batendo um bolão, encarando até discussões em mesa de bar sobre o esporte que é paixão nacional.

Sim, nem só de corte de cabelo, compras, homens e filhos conversam as mulheres do século XXI. O futebol entrou na roda dos assuntos da mulherada com força total e não é só modismo, não. Nem estamos em época de Copa do Mundo e elas mostram que amam o esporte tanto quanto eles.

E se você está pensando que elas falam só das pernas dos jogadores, engana-se! Claro que, vez ou outra, elas entram em questão, mas as meninas gostam mesmo é de ver as performances dos jogadores, discutir as regras, xingar e brigar com o juiz como tradicionalmente fazem os rapazes.

A advogada Tamara Lhamas é um exemplo desse novo perfil feminino. Segundo ela mesma, a moça é torcedora "desde que nasceu" e entende de todas as regras porque sempre assistiu aos jogos com o pai botafoguense.

Mas a menina sempre teve personalidade e não compartilha a paixão paterna. Muito pelo contrário. "Já no ventre eu era Flamenguista", afirma categórica.

Foto
de torcida do Tupi

Para Tamara, o gol é o momento áureo da partida, é o que faz todo o sofrimento valer a pena. "A emoção de ver o gol sendo feito e a euforia da torcida vendo os jogadores entrarem em campo são coisas que não têm comparação".

A publicitária Natália Amorim (foto ao lado) acredita que a torcida é o grande charme do esporte. "São milhares de pessoas que se unem em torno de um único objetivo: ver seu time sagrar-se campeão".

Para a moça, o futebol é um esporte de alegria e união. Assim como a torcida, o esforço dos jogadores em busca do título são fatores, que segundo Natália, dão brilho ao esporte.

"Ver os jogadores literalmente dando a raça pelo o time e a torcida enlouquecida são o que mais me atrai no futebol". A moça que torce desde criancinha, por influência dos primos, diz que entende das regras, mas confessa: "não dá para não notar aquelas pernas [risos]".
Paixão de casal

Com o marido, o também advogado, Carlos Cunha, Tamara divide não só o mesmo teto como também a paixão pelo esporte e pelo time rubro-negro. O que é uma sorte para a moça, já que o rapaz não suportaria torcida rival dentro de casa.


"Nunca apoiaria se ela torcesse para outro time: uma vez Flamengo sempre Flamengo". O destino colaborou para a harmonia entre o casal e hoje eles despertam inveja nos amigos.

Carlos conta que os amigos queriam que as esposas/namoradas fossem como Tamara. "Eles gostariam de ter uma esposa companheira como a minha". Por que eles têm tanta inveja do amigo? Simples: Tamara vai com o marido ao estádio e mais: não se incomoda com as famosas 'peladas' com os amigos.

"Eu sinceramente não sei entender porque as mulheres não gostam de futebol. Eu apóio meu marido, não me importo de ele ir bater uma pelada com os meninos. Acho até saudável", diz.

Solteira, Natália tem uma opinião à respeito da repulsa feminina em relação ao futebol. A moça acredita que tudo não passa de implicância com os meninos. "A maioria das mulheres não gosta de futebol porque os namorados adoram (risos). Sem preconceitos, mas o esporte é masculino não tem jeito, mas as jogadoras brasileiras estão batendo um bolão e mostrando que mulher pode e deve gostar de futebol".
A emoção do estádio

Sem medo da violência, as duas já foram ao Maracanã assistir a uma partida de futebol e não se arrependem. Segundo elas, a emoção é indescritível.

Enquanto Tamara estava com seu marido assistindo à final da Taça Guanabara 2008 em pleno Maracanã, Natália estava com as amigas em um bar superlotado, sentindo a vibração dos torcedores e relembrando de quando esteve no estádio em um jogo entre Flamengo e Vasco.


A publicitária revivia o arrepio na memória, enquanto Tamara o sentia na pele pela segunda vez. O que as duas tinham em comum naquele momento? Separadas por duas horas de estrada, elas estavam sintonizadas na mesma energia.

"É indescritível estar na "casa" do seu time com ele em campo. É realmente uma emoção fora do normal", relembra a publicitária, com brilho no olhos.

"É de deixar o corpo todo arrepiado, é uma emoção única quando você ouve a torcida inteira cantando o hino do time... É simplesmente maravilhoso!!!", derrete-se a advogada com a mesma euforia de quem acaba de voltar do sonho.
Sem preconceitos

Em um país eminentemente machista em que "futebol é coisa para homem" e "lugar de mulher é na cozinha", as meninas torcedoras surpreendem quando revelam que nunca sofreram preconceitos.

Segundo Tamara, nunca chegou aos seus ouvidos nenhum tipo de crítica. "Nenhuma das minhas amigas nem ninguém da minha família nunca me falou nada a respeito, então, sinceramente, não sei o que eles pensam disso", diz.


Natália vai além, diz que não é a única mulher da sua turma a gostar de futebol. "Ninguém vê nada demais, na verdade algumas das minhas amigas até gostam do esporte", orgulha-se.

Com os anos 2000 a todo vapor, os comportamentos deixaram de ser sectários. Os gêneros se misturam nas funções e a sociedade só tem a ganhar com essa mudança.

Que cada vez mais mulheres possam gostar de futebol ou qualquer outro esporte outrora visto como prioridade masculina e que os homens possam pilotar um fogão ou exercer qualquer outra função pré-estabelicida como exclusividade feminina, com dignidade, afinal, vivemos em uma democracia.

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