sábado, 8 de setembro de 2012
Os dois lados da imensa vaia à Seleção Brasileira no Morumbi
A principal explicação para o péssimo futebol no amistoso de sexta-feira, contra a África do Sul, é o time mal estruturado. Mano Menezes tentou um 4-3-3 torto, com Rômulo de primeiro volante, Ramires de ponta-esquerda e Oscar na meia-direita. Os três do meio se espalhavam, o ataque não funcionava.
Tardiamente, só depois da entrada de Paulinho aos 18 minutos do segundo tempo, a seleção passou a jogar num 4-2-3-1 capaz de agrupar o meio-de-campo e formar o que se pudesse chamar de time. Fez 1 x 0.
O jogo de sexta tem culpa de Mano Menezes.
Nos dois anos sem resultados expressivos sob o comando de Mano, a partida contra a África do Sul entra no grupo dos pecados mortais. Ganhar de 1 x 0 sofrendo e com o adversário reclamando de gol impedido é como empatar com a Venezuela por 0 x 0 na estreia da Copa América. Ou como ser eliminado do torneio errando três pênaltis contra o Paraguai.
Taticamente, a seleção foi ainda pior no Morumbi.
Uma parte da crise da seleção brasileira é alheia à manutenção ou troca do comando técnico: excesso de juventude. Procure na história das grandes seleções, brasileira ou não, uma equipe cujos principais jogadores tenham todos 20 anos, como Lucas, Oscar e Neymar.
Não há.
Dos grandes craques da história da seleção, Zico, Falcão, Sócrates, Rivelino, Romário... Nenhum desses era titular aos 20 anos. Pelé era, mas tinha Didi a seu lado. Ronaldo também, mas em companhia mais madura – Romário, Dunga, Bebeto! Messi jogava pela Argentina, ao lado de Riquelme.
O time precisa envelhecer. Se não é possível ter Kaká e Ronaldinho, é preciso encontrar setores onde joguem os mais maduros – hoje, só Thiago Silva.
TORCIDA DE VÔLEI
Junte a isso a falta de compromisso da torcida de vôlei que foi ao Morumbi em busca de um show. Torcedor de seleção sempre foi assim, não vai mudar. As imagens da TV Globo passavam a impressão de que o público se divertia com uma comédia, não se emocionava com um drama. No intervalo, uma torcedora se esgoelava de vaiar. Ao grito, seguiu-se uma gargalhada.
Lembrei-me da grã-fina das narinas de cadáver, personagem de Nelson Rodrigues, que ia às Laranjeiras e perguntava quem era a bola. No segundo tempo, dois torcedores vaiavam e riam. Desempenho sofrível, como o de sexta, em jogo de clube é certeza de assistir a cenas de pânico, drama, choro nas arquibancadas. A grã-fina das narinas de cadáver pagou R$ 80. Tem direito de rir da tragédia.
Daqui até a Copa do Mundo, muita coisa terá de mudar. A principal, é óbvio, a qualidade do futebol. Talento, dribles, gols nunca são apupados. Mau futebol é sempre criticado, mas várias vezes também apoio de torcedores que sabem quem é a bola e quais os problemas do time.
Para lidar com a pressão da torcida e com os problemas naturais da montagem de uma equipe – especialmente um time que deveria ser sub-20 e precisa ganhar a Copa do Mundo – é preciso maturidade. Mais uma vez, só há uma chance de fazer esse time melhorar. Seguir o conselho de Nelson Rodrigues: meninos, envelheçam!
Não vão envelhecer o bastante para enfrentar os jogos – e sua própria torcida – em apenas dois anos
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