“Ano passado recebi um convite de um amigo que iria mudar minha vida para sempre.
Acabava de voltar do Hawaii, e um dia surfando na minha praia local aqui no norte das Asturias (Espanha), um amigo, Pette, comentou que tinha começado as obras de um futuro surf camp no sul da Sumatra, um lugar que ele já tinha me contado mil maravilhas.
Há 10 anos ele surfava pela zona e seu sonho era construir um surf camp, e finalmente ele tinha conseguido reunir a grana para começar seu projeto e principalmente pessoas de confiança na Indonésia para trabalhar com ele, pois para poder ter um negócio por lá, parece ter que se associar aos locais.
Voltando ao nosso encontro, ele me contava todo orgulhoso que já estava em andamento o surf camp. Comecei a me interessar tanto pela história quanto pelo lugar, então perguntei se ele não estava interessado em um fotógrafo para ir trabalhar com ele.
Pette gostou da ideia e começamos a ver as possibilidades. Eu também sabia que ele iria necessitar de uma pessoa para montar a web e para ajuda-lo no marketing, pois ele não é uma pessoa muito ligada às novas tecnologias.
O convite
O negócio agora seria conhecer este lugar, tão falado por ele nos últimos 10 anos. Cada vez que encontrava Pette, sempre acabávamos na mesma conversa. Ele me contava aquelas famosas histórias de surfistas, que as vezes tem que ver para crer, pois somos como os pescadores, sempre exageramos as explicações e uma onda de 1 metro vira uma de 3 e um tubinho um tubão!
Ele me falou: ‘Porque você não aproveita, vai conhecer pessoalmente e comprovar que lá é realmente um paraíso!’. Não pensei duas vezes! Meu filho já estava liberado das obrigações da escola, eu tinha tempo e minha mulher, sempre muito positiva, já estava com as malas prontas!
A partida
Embarcamos rumo a Sumatra. A viagem começou no aeroporto de Madrid. Depois fizemos uma escala em Doha (Qatar) até chegarmos a Jakarta, onde passaríamos a noite.
No dia seguinte pegamos um voo interno para Bandar Lampung e em menos de 1 hora estávamos aterrissando nesta pequena cidade no sul da Sumatra. Era uma alegria chegar tão longe de casa e tão perto do paraíso!
Lá, um motorista do surf camp esperava para nos levar ao nosso destino final, Luxury Sumatra. Desde o aeroporto são apenas 250 quilômetros.
A chegada ao lugar é sempre de muita expectativa. Quando o carro virou pra esquerda depois da última curva foi aquela sensação indescritível, com o coração a mil! Uma pequena estrada de terra era o último obstáculo depois de tantas horas de viagem.
Irma, nossa anfitriã, nos esperava na porta do Luxury. Meu filho estava muito feliz e já com vontade de surfar. Nos instalamos em bungalows muito confortáveis em frente ao pico.
A primeira sensação do lugar e das ondas foi unânime, era o lugar tal qual nosso amigo Pette havia descrito. Como era bom estar naquele lugar, tão longe da civilização, bem diferente de outros lugares que havia visitado na Indonésia.
Deixamos nossas malas e pranchas no quarto onde passaríamos nossos próximos três meses e fomos olhar o mar, que estava bem em frente do camp. As ondas estavam bem pequenas, mas as previsões eram muito boas e seria ótimo para poder descansar e preparar o material para os próximos dias.
Primeira remada
No primeiro dia de surf as ondas estavam perfeitas para se aclimatar com o reef e com a onda. Um metrinho bem encaixado! Peguei umas ondinhas e saí para fotografar meu filho que ficou mais de seis horas surfando.
Voltamos pro Resort com muita fome. Depois de um rango bem servido, fizemos uma siesta e também fugimos do sol, que ao meio dia é muito forte.
Lá o surf rola na parte da manhã e da tarde. Ao meio dia também da pra surfar, mas é importante muita proteção solar. No final de tarde rolou outra sessão muito boa, já com o mar ficando cada vez maior.
De noite, depois de um jantar delicioso, umas cervejas Bitang e uma sinuca, vimos vídeos, conversamos e fizemos novos amigos, até que chegou a hora de dormir. O mais bonito de uma viagem é poder encontrar novas pessoas e fazer novos amigos.
Durante os três meses que estivemos no Luxury, conhecemos muita gente e reencontramos muitos amigos. É inacreditável, mas o mundo do surf é bem pequeno.
Foram muitas sessões de surf, algumas memoráveis. Também aproveitamos para explorar outras ondas. A dez minutos do Resort estava a onda mais casca grossa da região.
Wayjambu, uma espécie de Padang Padang mais selvagem, uma esquerda que quando está em condições perfeitas é uma das melhores ondas do mundo, sem dúvida. Nos três meses pude vê-la funcionando na sua melhor versão. Também tive a oportunidade de vê-la surfada por uns prós franceses que simplesmente destruíram.
Também, outra alternativa nos dias pequenos, são as praias que temos na região. A mais famosa se chama Mandiri, um bom beach break, uma extensa praia com muitos picos. É uma onda bem tubular. Para quem gosta de aéreos e boas manobras é o lugar ideal.
Seguindo a estrada em direção à cidade mais próxima, chamada Krui, estão vários spots alternativos para os dias de muito swell. Lá estão as ondas de Krui Left e Krui Right, uma espécie de Bingin, mas sem o crowd de Bali.
Antes de chegar nestes picos, tem várias ondas pouco surfadas, só esperando para serem desbravadas. A direita mais famosa é chamada de The Peak. Ela é muito conhecida pelos bodyboarders e é uma direita curta, mas intensa e tubular.
Depois de Krui chegamos à parte mais selvagem da região, aonde vários picos vão passando na frente das nossas vistas. São muitos beach breaks e alguns reefs a espera de serem descobertos.
Tem também uma pequena ilha chamada Banana´s, com uma direita de um lado e uma esquerda do outro só esperando para ser surfada. É inacreditável ver tantas ondas solitárias rolando, ainda mais logo depois de uma viagem ao Hawaii onde praticamente todas as ondas estavam crowdeadas.
No final da nossa expedição pela costa chegamos à região de Jimmys, uma direita no final de um pequeno vilarejo de pescadores. Neste lugar se escondem várias ondas. É um lugar onde realmente você ira surfar apenas com seus amigos.
Continuando na estrada, depois das boas direitas de Jimmys está a joia do lugar: Honeysmack, uma esquerda comparada a Teahupoo no Tahiti. Uns amigos franceses tiveram a sorte de surfá-la e não acreditaram no potencial da onda.
E perto do final da estrada, entre uma plantação de coqueiros, chegamos a uma baía maravilhosa que tem no fundo um extenso reef onde de cada lado sai uma onda perfeita, uma esquerda e uma direita chamadas Jennys Right e Left.
É um lugar onde ainda não existem surf camps, só alguns vilarejos de pescadores, onde o turismo ainda não chegou, onde as pessoas locais ainda não estão acostumadas com o turista e onde o homem branco é como uma novidade!
Os nossos três meses nesse pequeno paraíso foram de muitas experiências, uma forma de vida mais tranquila, ditada pelas ondas do mar, com muito tempo de tranquilidade, para conversar, para aprender e para desfrutar do tempo!"
FONTE: RICOSURF
Nenhum comentário:
Postar um comentário