segunda-feira, 22 de julho de 2013

Ignorado por Juvenal, Marco Aurélio afirma que apenas a 'firma' Independente não o apoia e diz: 'São Paulo não é lugar de aprendiz'



A panela de pressão que se tornou a vida política do São Paulo não para de esquentar. Os péssimos resultados dentro de campo - já são sete derrotas consecutivas - alimentam as críticas de uma oposição cada vez mais insatisfeita com os rumos do clube. Os atuais donos do poder respondem à altura. Nesse domingo, durante uma festa na sede social do Morumbi, membros da situação entraram em conflito com simpatizantes de Marco Aurélio Cunha, ex-médico e ex-dirigente tricolor e candidato à presidência no pleito marcado para abril de 2014. Integrantes da organizada Independente presentes no local agrediram os oposicionistas, que também foram ofendidos pelo presidente são-paulino, Juvenal Juvêncio.

Nessa segunda-feira, no primeiro contato por telefone com a reportagem do ESPN.com.br, Marco Aurélio Cunha preferiu não comentar os acontecimentos. "Melhor esperar os ânimos se acalmarem. A coisa está feia. Quando voltar ao Brasil conversamos", disse, dos Estados Unidos.

Mas os ataques se tornaram ainda mais fortes ao longo do dia. Ao ESPN.com.br, Henrique Gomes, vice-presidente da Independente, declarou, fazendo menção a um vídeo no qual Marco Aurélio é visto cantando o hino do Santos - ele trabalhou no clube da Vila no final dos anos 1990: "Não aceitamos Marco Aurélio Cunha como presidente do São Paulo, pois o cara que canta o hino de outro clube não é são-paulino."

Horas depois, as palavras de Henrique e da organizada chegaram à caixa de e-mail dos sócios-torcedores do São Paulo em uma manobra suspeita. O endereço eletrônico do próprio clube foi usado para que fossem divulgadas as críticas à oposição - o São Paulo alega que se tratou de um erro de um funcionário.
Ciente do ocorrido, Marco Aurélio Cunha não declinou do segundo pedido de entrevista. Dizendo-se brutalmente entristecido, rebateu as acusações da torcida organizada - "a verdadeira Independente está comigo"-, cutucou a atual diretoria - "o São Paulo não é lugar para principiante e nem para aprendiz" - e lembrou que já havia avisado Juvenal Juvêncio, seu ex-genro e ex-aliado, sobre os rumos que o clube estava tomando: "Quando percebi que minha voz não era ouvida eu sai."

LEIA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA COM MARCO AURÉLIO CUNHA:

Lucas Borges: Desculpe te ligar novamente, mas acredito que você gostaria de falar depois do que aconteceu durante o dia.

Marco Aurélio Cunha: Acho isso de uma tristeza absoluta. Não estou nem no Brasil. Por mais que queiram eles não conseguem manchar minha história. Trabalhei em vários clubes para perceber as coisas boas que os outros tinham e trazer para o meu, para aprender com as adversidades. Inclusive no Japão. Fui médico da seleção da Jamaica em 1998 e estava perfilado para o hino da Jamaica, se soubesse cantar, cantaria. Até tentei. O Felipão trabalhou na seleção de Portugal.

Aquelas imagens que eles passam são tão mesquinhas - vídeo de Marco Aurélio cantando o hino do Santos. Foi em um casamento de família, foi uma brincadeira comigo que sou são-paulino. Sempre participo de brincadeiras. E aquilo nem hino do Santos é, é uma marchinha. Mas não tem nenhum problema, minha história fala por mim. Perguntem aos presidentes dos clubes que trabalhei, Bragantino, Guarani, Avaí, sobre a minha conduta. As conquistas e as glórias que conquistei pelo São Paulo estão lá. É o clube que eu amo. Não trato o clube como minha firma, mas como minha paixão e com profissionalismo.

L.B: O que o senhor acha das manifestações da Independente contra o senhor?
M.A.C: Não será essa meia dúzia que quer tomar conta de uma grande torcida e não consegue que vai manchar minha história. A Independente, quem não pertence a essa firma, está revoltada com os próprios comandantes e com a própria Independente. Está revoltada com esse comando porque não representam a Independente, mas a firma que arrecada em pról de si mesmo. Entre nas redes sociais e pergunte quem está do meu lado. O torcedor que viaja de graça e não paga ingresso ou aquele que paga ingresso? Dentro da Independente a maioria está comigo.

L.B: O senhor já deve saber que uma mensagem com palavras contra o senhor foi enviada a sócios-torcedores pelo endereço eletrônico do próprio São Paulo.
M.A.C: Isso me entristece brutalmente. Até porque estou fora do Brasil há quinze dias, não posso ser responsável pelas pessoas gostarem de mim, apesar de não ter feito nenhum movimento, de não ter dado nenhuma palavra. O que eu falei é que precisa de mudança. Se depois de sete derrotas seguidas acharem que está bom, que tem que continuar...Se disserem que está bem eu pergunto: que diretoria é essa que acha que está bom, que acha que as pessoas são cegas, mudas e surdas? Alertei há muito tempo. Nunca estive contra ninguém, só disse que era hora de mudar raciocínios, estratégias. O São Paulo não é lugar para principiante e nem para aprendiz.

L.B: Voltando para o Brasil o senhor vai intensificar a campanha pela presidência do São Paulo?
M.A.C: Vou intensificar. Cada vez mais forte. Se tem uma palavra que não conheço é medo. Sai do São Paulo em 1990 por causa do Juvenal - na primeira gestão do atual presidente -, por ser genro dele. E fui solidário a ele todo o tempo, inclusive dizendo que jamais lançaria uma candidatura contra ele. Agora o momento é outro, ele vai deixar o cargo. Só saí do São Paulo - na 2ª oportunidade, já em 2009 - porque o Juvenal não quis me ouvir. Explicava o caminho que estávamos seguindo.

L.B: Que caminho era esse?
M.A.C: É o caminho de mudança, de abrir mão de grandes profissionais. O futebol é feito de técnicos, preparação física, preparação de goleiros, técnicos que conhecem futebol no sentido humano e não diretor que assiste ao jogo do pay-per-view. É feito de pessoas que convivem com atletas e são bem-vindos, que possam mandar nos atletas. Quando se coloca pessoas que os atletas não acreditam dá nisso

O Centro de Treinamento de Cotia, por exemplo: é bom um, dois, três. Lucas, Hernanes, Jean, esses aparecem às vezes. O resto é pra compor elenco. Ele - Juvenal - quis transformar o São Paulo em uma mini Cotia. Eu dizia que não ia dar certo e não deu. Ele começou a colocar técnicos que fizessem o que ele mandava. Era isso que eu dizia a ele e de forma afetuosa: ‘esse caminho não dá certo'. Quando percebi que minha voz não era ouvida eu sai.

L.B: Você acredita que os jogadores do São Paulo estão do seu lado?
M.A.C: Os jogadores não têm que estar do lado de ninguém. Podem ter no íntimo suas preferências, me dou muito bem com muitos deles. Mas eles têm que defender o São Paulo

L.B: O São Paulo corre risco de ser rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro?
M.A.C: Lamentavelmente, sim. Não combina com o São Paulo, espero que o Autuori, em quem confio muito, consiga reverter, não deixe ESPNninguém entrar em vestiário, só profissionais do futebol. Se não, existe risco, sim, de cair.

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