Gustavo Soares é uma criança de apenas 7 anos e que tem um dom com a bola nos pés. Ele tem a mesma idade, por exemplo, com que Lionel Messi começou a carreira que o levou hoje a ser o melhor jogador de futebol do mundo. A comparação é absurda? A pressão nos ombros de atletas muito jovens também. A pressão ficou tão insuportável para Gustavo que, apesar do pouco tempo de “carreira”, já anunciou a “aposentadoria”, como mostra o "SporTV Repórter" .
- Estava muito chato. Agora vou jogar no Flamengo. A marcação lá no Fluminense toda hora ficava apertada, não dá nem para dominar a bola que eles pegam. Eles só fazem isso com o segundo time, e eu sou do segundo. Eu era do primeiro, mas me botaram no segundo. Aí depois fui para o terceiro (time) e não gostei mais ainda. Não sei (quando vou voltar a jogar) - tenta explicar Gustavo, que já passou pelo futsal de Vasco e Fluminense.
Ao sete anos, o pequeno Gustavo preferiu parar
(Foto: Reprodução/ SporTV)
- A gente tem umas gravações dele pequenininho, para fazer dois anos, em que quando cheguei do trabalho ele ficou batendo bola comigo. Ele sempre bateu de peito de pé, sempre teve uma coordenação legal - relembra o pai, que revela o choque ao saber que Gustavo não queria mais seguir o caminho profissional, cheio de obrigações.
- Senti culpa, porque, por ter jogado, de repente falei umas coisas que não era para ter falado, de repente atrapalhei um pouco. Mas sou pai, joguei e vejo o potencial dele, não só eu, mas todo mundo vê. O pessoal do Vasco está sempre me ligando e perguntando dele, no Fluminense também. Falei que estou fazendo o tratamento com ele. Joguei e quero que meu filho jogue também, mas não estou forçando nada, ele começou e parou, e fiquei muito chateado com aquilo ali - admite.
Paulo Soares admite a frustração por não ver o filho
jogando (Foto: Reprodução/ SporTV)
Angelina Patacho, psicoterapeuta infanto-juvenil que ajuda no tratamento de Gustavo, lembra que os pais são fundamentais nesse trabalho, para que eles também entendam o que acontece com o filho.
- Ele falou disso tudo que estava acontecendo, da filmagem, e disse: "É coisa do meu pai". Por essa resposta, dá para entender o que estou falando de expectativa. Ele participou, não tem tantas questões, mas isso não é dele, tem a ver com a família, que acaba esperando um pouquinho, o que é natural, porque parece que ele joga bem. Não sei o que ele está entendendo de aposentadoria, mas talvez seja a coisa do descanso, de interromper esse movimento de pressão. Na verdade, o trabalho não é só com o Gustavo, é com ele e a família, para que eles entendam isso e essa coisa volte a funcionar de uma forma mais natural.
Paulo não esconde que não ver o filho em ação seria uma decepção, mas, ao mesmo tempo, após conversa com Angelina, diz estar ciente de que isso pode acontecer.
Gustavo releva à psicoterapeuta que jogava para
satisfazer o pai (Foto: Reprodução/ SporTV)
- Ia ser complicado (se ele não quisesse jogar mais), mas eu já caí na real. A psicóloga já falou comigo e com minha esposa. O Gustavo desabafa tudo, falou que faz as coisas por minha vontade, para eu não ficar chateado com ele: "A minha mãe me defende, o meu pai às vezes quer que eu vá e eu não quero ir, e vou para não frustrar o meu pai", ele diz. Agora já caí na realidade.
Bola hoje em dia na vida de Gustavo só na escola e sem valer nada, mas ele ainda não encerrou a carreira de forma definitiva: “Vou (ser jogador quando crescer)”. Angelina Patacho também acha que Gustavo pode voltar às competições.
- Não acredito que ele pare, daqui a pouco ele volta, porque ele gosta, tem prazer nisso, mas o entorno também tem que ajudar nesse processo. Querendo ou não, acaba-se criando expectativas sobre o Gustavo, sobre ele funcionar, sobre ele avançar - conclui a psicoterapeuta.
FONTE: GLOBO ESPORTE
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