quinta-feira, 19 de junho de 2014

Números mágicos: versão argentina goleia o quadrado brasileiro de 2006

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arestas (Agência Reuters)

Quatro para cá. Quatro para lá. E craque de tudo quanto é lado. A esperança da Argentina na Copa do Mundo no Brasil tem contornos muito similares ao sonho dos brasileiros há oito anos, na Alemanha. Assim como o time de Parreira, a seleção de Alejandro Sabella tem seu ponto forte em um badalado quarteto ofensivo, batizado de "Quadrado Mágico". No Mundial de 2006, o hexacampeonato foi adiado na derrota por 1 a 0 para França, nas quartas de final, e marcado por desempenho frustrante de Ronaldo, Ronaldinho, Adriano e Kaká. Desta vez, a responsabilidade está nos ombros de Messi, Agüero, Di María e Higuaín. E a julgar pela performance na temporada prévia ao Mundial, os hermanos têm muito mais chance corresponderem às expectativas de seu povo.

Números dos quadrados mágicos do Brasil na Copa de 2006 
e da Argentina no Mundial do Brasil (Foto: Infoesporte)

Jogando em grandes ligas europeias, os argentinos somaram impressionantes 104 gols em 2013/2014, marca consideravelmente maior do que os 80 marcados pelos brasileiros em 2005/2006. A estatística em números absolutos é a favor de Messi e cia. também se levada em conta a média: 0,58 para os hermanos contra 0,47 dos "mágicos" do Brasil. E a superioridade não se dá por conta do "fator Messi". Dos quatro homens de frente, apenas Di María não fez mais gols do que todos os "rivais" no ano anterior ao Mundial. Angelito, por sua vez, foi o maior garçom da Europa, com 24 passes para gol.

Brasil: show na Copa das Confederações, decepção no Mundial

De todos os oito craques envolvidos na "disputa", Messi foi quem mais balançou as redes, em 41 oportunidades pelo Barcelona. Já Di María, com 11, está no pé da lista. Pesa a favor do jogador do Real Madrid o fato de não ser atacante e jogar distante da área. Neste quesito, quem mais decepcionou foi Ronaldo Fenômeno, que fez somente 15 gols em 27 jogos pelo mesmo Real Madrid.

Adriano, Ronaldo, Kaká e Ronaldinho: decepção brasileira 
na Copa do Mundo de 2006 (Foto: Editoria de Arte)

Toda badalação em cima do quarteto brasileiro se deu muito por conta da participação na Copa das Confederações de 2005, também na Alemanha. Com Adriano como principal jogador, o Brasil foi campeão com um sonoro 4 a 1 sobre a Argentina na decisão. Na ocasião, porém, Robinho formou o quadrado mágico no lugar de Ronaldo. Nas eliminatórias, os brasileiros também foram muito bem e acabaram "campeões", com 34 pontos. No Mundial, frustração.

Somados, os membros do quarteto fizeram seis gols na Alemanha (três de Ronaldo, dois de Adriano e um de Kaká), mas tiveram atuações discretas de um modo geral, principalmente na eliminação contra a França. Então melhor jogador do mundo, Ronaldinho sequer deixou sua marca e protagonizou lance marcante ao pisar na bola em duelo com a Austrália. Aquela Copa, por sinal, foi a última de Ronaldo, Ronaldinho e Adriano, que viram o rendimento cair muito a partir dali.

Argentinos são melhores também em desempenho pela seleção

Já os argentinos ganharam o status por uma mistura do que fizeram por seus clubes e também sob o comando de Alejandro Sabella. O treinador foi responsável por apostar nos quatro homens de frente e montar um esquema que permita Messi jogar em condição similar a que atua no Barcelona. Com o treinador, o camisa 10 fez em três anos mais do que o dobro de gols por seu país nos seis anos anteriores. E todos os quatro hermanos demonstraram bem mais do que os brasileiros o que podem fazer por seu país ao longo do ano anterior a Copa. Somando gols somente pela seleção, goleada de 36 a 15.

Agüero, Messi, Di María e Higuaín: quarteto marcou 104 gols 
por clubes e 36 pela seleção na temporada (Foto: AFP)

O quadrado mágico foi responsável direto pela classificação com tranquilidade e liderança da Argentina nas eliminatórias para Copa no Brasil. Não por acaso, os quatro ocupam a liderança na lista de artilheiros com Alejandro Sabella: Messi, com 22 gols, Higuaín 14, Agüero 8 e Di María 5. No Mundial, apenas o camisa 10 deixou sua marca na estreia contra a Bósnia. E justamente quando teve seus três coadjuvantes ao lado.

Os atacantes se sentiram mais cômodos com mais gente. Era melhor sairmos para contra-ataque, com a velocidade do Di María. No primeiro, Kun ficou um pouco longe de todos, eu vinha para trás e ficava longe do gol

Messi, sobre manutenção do 4-3-3

Por precaução, Sabella mandou para campo uma formação mais defensiva, e deixou Higuaín no banco. O que se viu no primeiro tempo foi uma Argentina sem criatividade e Messi em péssima exibição. Na etapa final, com o quadrado mágico em campo, o jogo mudou completamente, o craque do Barcelona passou a jogar bem e fez um golaço. Inclusive, fez campanha pela manutenção da formação em várias entrevistas.

- Os atacantes se sentiram mais cômodos com mais gente. Era melhor sairmos para contra-ataque, com a velocidade do Di María. No primeiro, Kun ficou um pouco longe de todos, eu vinha para trás e ficava longe do gol. Tinha que buscar para seguir adiante. Acabei perdendo várias bolas e muitas toquei para trás. Não fazia a partida que pretendia. Creio que devemos manter (o 4-3-3). Sou argentino e quero sempre ver o time na frente. Pode ir de partida para outra, não há problema mudar. Mas acho que primeiro temos que pensar em nós.

Alejandro Sabella entendeu o recado e na quarta-feira já armou a Argentina com Messi, Higuaín, Di María e Agüero juntos. Contra Irã e Nigéria, a tendência é que a formação seja mantida. Afinal, a esperança dos hermanos na Copa está nos pés deste quadrado mágico. E os números pelo menos deixam claro: a possibilidade de sucesso é maior do que o do Brasil oito anos atrás.


FONTE: Cahê Mota*

* Colaborou Sofia Miranda, estagiária

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