"O Vasco estava semi-morto e hoje o Vasco está vivo. Só quero dizer uma coisa, a partir do momento que eu assumir, o Vasco vai voltar a ser respeitado, dentro e fora de campo. Tive o dobro da votação dos outros dois candidatos juntos, isso é uma demonstração que o Vasco queria que eu voltasse. Eu só voltei para resgatar o Vasco, para tirar o Vasco desta situação", comemorou Eurico, logo após a vitória, fumando o seu tradicional charuto inseparável a todo momento.
Oficialmente Eurico Miranda ainda não pode ser considerado o novo presidente, mas a confirmação deve acontecer no próximo dia 19. Isso porque a eleição do Vasco é indireta. Nesta terça-feira, os sócios elegeram a chapa "Volta Vasco! Volta Eurico", que agora tem direito a 120 lugares no Conselho Deliberativo. O segundo colocado, Brant, vai indicar mais 30 conselheiros. Além desses, o Conselho conta com mais 150 membros natos, e este total de 300 pessoas vai votar no dia 19, em sessão na sede náutica da Lagoa, quando o presidente será efetivamente eleito para o triênio 2015, 2016 e 2017. A posse da nova diretoria está marcada para 1º de dezembro.
O total de 5.592 votos (incluindo brancos e nulos) desta terça marcou um recorde histórico no Vasco, superando a eleição de 1985, quando 5.553 pessoas foram às urnas e elegeram Antonio Soares Calçada. Mas durante todo o processo houve muitas divergências sobre o número de eleitores que poderiam votar. Antes do início da apuração, os integrantes da Assembleia Geral do clube analisaram três pedidos de impugnação da chapa de Julio Brant, mas a decisão não influenciou no resultado final.
Das 60 pessoas que teriam "sumido" da lista e o Ministério Público pediu para que votassem em urna separada, apenas uma teve o voto computado. Já dos 153 sócios gerais que não estariam recadastrados e não apareciam em uma lista anterior, todos eles tiveram os votos validados.
Antes mesmo da definição do resultado do pleito, mas quando os votos já indicavam a vitória de Eurico, Julio Brant deixou São Januário dentro de uma viatura da polícia. Ele foi ofendido por partidários adversários, houve tumulto e uma segurança chegou a puxar uma arma, mas apensar da tensão ele conseguiu ir embora sem problemas maiores.
Terceiro mandato como presidente - Eurico Ângelo de Oliveira Miranda, aos 70 anos, volta ao comando do Vasco pouco mais de meia década após ter deixado o cargo, em julho de 2008. No início, o dirigente garantiu que jamais voltaria a ocupar uma função no clube. Não cumpriu o prometido, obviamente. Após alguns meses sem frequentar São Januário, voltou aos corredores do clube e, em 2010, assumiu-se oficialmente como oposição a Roberto Dinamite, ao ver sua chapa eleita para a presidência do Conselho Deliberativo.
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Mesa de apuração dos votos
O processo de retorno de Eurico ao topo do clube, no entanto, foi complicado e arrastou-se pela Justiça, principalmente devido ao denominado "mensalão vascaíno". Em 30 de abril de 2013, 1.730 pessoas se associaram ao Vasco. no mês todo, foram quase 3 mil novos sócios. As denúncias internas no clube apontavam que as candidaturas de oposição, de Eurico Miranda e Roberto Monteiro, seriam as responsáveis pelo número espantoso de adesões em um só dia.
Entre idas e vindas de liminares judiciais, o pleito vascaíno, marcado para o dia 6 de agosto, acabou adiado para 11 de novembro devido ao "mensalão": de acordo com a Justiça, o Vasco deveria fazer um recadastramento de sócios para verificar quem teria condições de voto. No entanto, no fim mesmo quem não teve os seus dados atualizados no processo pôde ir às urnas nesta terça.
Eurico era apontado favorito para retomar o poder. Isto porque do Vasco, realmente, Eurico nunca saiu. A imagem polêmica do cartola se confunde com o clube desde 1967, quando entrou no quadro de funcionários como diretor de cadastro. Polêmico, falastrão e autoritário, conseguiu subir de cargo e entrar na vida política da Colina com facilidade. Em 1979 passou a ter influência direta nas decisões vascaínas ao se tornar assessor especial do presidente Alberto Pires Ribeiro.
Com os anos, Eurico sempre buscou mais poder. Em 1980 viu-se com ainda mais destaque ao repatriar o ídolo Roberto Dinamite, hoje desafeto político, do Barcelona. O craque estava próximo de voltar ao arquirrival Flamengo, mas Eurico teve interferência direta para devolvê-lo ao Vasco. Exultante, tentou concorrer à presidência do clube em 1983, mas acabou derrotado por Antônio Soares Calçada.
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Eurico Miranda comemora vitória com partidários durante a madrugada em São Januário
Mais comedido, soube compor alianças e tornou-se vice de futebol do próprio Calçada ainda na década de 80. Participou da venda de Romário para o PSV, da Holanda, em 1988, e em 1989 comprou Bebeto, então craque do rival Flamengo, com o qual o clube conquistou o Campeonato Brasileiro. Polêmico, sempre comprou brigas e garantia fazer de tudo para defender o Vasco. Até mesmo entrar na política brasileira.
Após ao tricampeonato carioca entre 1992 e 1994 elegeu-se deputado federal. A partir daí, a ascensão foi meteórica. Todo poderoso do futebol, Eurico viu o Vasco ser campeão brasileiro em 1997 e campeão da Libertadores em 1998, ano do centenário do clube. No mesmo ano, Eurico Miranda acertou um negócio milionário para o clube, a parceria com o banco norte-americano NationsBank, que injetou 150 milhões de dólares no clube cruzmaltino.
Em 2000, com a saída de Calçada, elegeu-se presidente. Além do futebol, tentou transformar o Vasco em potência olímpica, contratando vários atletas que representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos de Sidney. Muitos acionaram o clube na Justiça do Trabalho posteriormente, por falta de pagamento. Naquele ano, o cartola envolveu-se em polêmica com o então governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, na queda do alambrado de São Januário durante a partida contra o São Caetano, na final da Copa João Havelange, em 2000. Eurico perdeu a queda de braço e o jogo foi mesmo adiado.
A partir daí, o poder do cartola entrou em declínio, mesmo tendo montado uma verdadeira seleção com Romário, Euller, Juninho Paulista e Juninho Pernambucano, campeã brasileira e da Copa Mercosul em 2000. A postura ditatorial de Eurico ficou cada vez mais evidente, com constantes barrações de veículos de imprensa em São Januário e lei da mordaça para os jogadores. Em 2001, Juninho Pernambucano se recusou a seguir a regra e concedeu entrevistas fora do clube. Entrou em rota de colisão com o presidente e, por falta de pagamento, conseguiu a transferência na Justiça para o Lyon, da França.
Investigado pela CPI do futebol em Brasília, Eurico ficou cada vez mais acuado. A imagem, desgastada, fez o Vasco perder a possibilidade de novos investimentos. As boas atuações em campo minguaram, as acusações de irregularidades no comando do clube aumentaram. Em 2002, não conseguiu a reeleição como deputado federal e perdeu a imunidade parlamentar.
Em 2003 foi reeleito presidente do clube em disputa com Roberto Dinamite, então já desafeto e quem expulsara da tribuna de imprensa de São Januário um ano antes, durante jogo do clube. O segundo mandato teve dificuldades, o clube correu risco de rebaixamento. Em 2006, ele tentou o terceiro mandato consecutivo. Em meio a muita polêmica, ele venceu Roberto Dinamite por 453 votos. O resultado, no entanto, não prevaleceu.
No dia seguinte ao pleito, o jornal LANCE! publicou uma reportagem na qual um repórter do veículo conseguira votar na eleição vascaína mesmo com a carteira de sócio vencida há mais de dez anos. O grupo político de oposição que dava suporte a Roberto, Movimento Unido Vascaíno (MUV), acionou a Justiça alegando irregularidade no pleito. Eurico Miranda teve de cumprir um mandato tampão com a guerra judicial.
Neste meio tempo, Eurico ainda promoveu o milésimo gol de Romário em maio de 2007, em São Januário. A relação do craque com o dirigente era estreita, com empréstimos milionários para aliviar a crise financeira, e o camisa 11 ainda ganhou uma estátua no campo vascaíno como homenagem pelo milésimo gol. Um ano depois, a Justiça determinara novas eleições no Vasco. Desgastado, Eurico protestou, mas se recusou a participar de um novo pleito.
A chapa de Roberto venceu e, em julho de 2008, assumiu o poder. Depois quatro décadas, Eurico deixava oficialmente o clube. A ausência, no entanto, durou pouco. Na madrugada desta quarta-feira, Eurico Ângelo de Oliveira Miranda viu sua chapa vencedora e, pela terceira vez, será presidente do Vasco. Agora, vai encontrar pela frente um clube com sérios problemas financeiros e provavelmente de volta à Série A do Campeonato Brasileiro após dois rebaixamentos.
FONTE: ESPN
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