Com apenas 20 anos de idade, o novo fenômeno do esporte recebeu a troféu de melhor surfista do mundo do tricampeão Mick Fanning, 33, depois de uma final eletrizante do Pipe Masters em memória a Andy Irons, com outro representante da nova geração, Julian Wilson, 26.
Medina liderava com uma nota 10 num tubaço fantástico no Backdoor, mas no último minuto o australiano também surfou um sensacional para virar o placar para incríveis 19,63 a 19,20 pontos e ganhar a coroa de Pipe Master, além do caneco de campeão da Tríplice Coroa Havaiana.
No entanto, isto não diminuiu a festa brasileira nas areias do templo sagrado do esporte, com a multidão carregando Medina nos ombros até o pódio. Para não depender dos resultados dos seus dois únicos concorrentes ao título, ele precisava ser finalista do Pipe Masters em memória a Andy Irons e atingiu a meta.
Nas direitas do Backdoor saiu a nota 10 de Medina na final. Foto: Kirstin Scholtz / ASP.
Na sexta-feira de tubos de 6-8 pés tanto nas esquerdas de Pipeline como nas direitas do Backdoor, Gabriel Medina já tirou Kelly Slater da briga quando derrotou o havaiano Dusty Payne, que liderava o ranking da Tríplice Coroa Havaiana. Mick Fanning ainda continuou no páreo ao superar o francês Jeremy Flores com um tubo surfado no minuto final, mas Slater acabou eliminado em 13.o lugar na terceira fase também nos últimos segundos por um tubaço do brasileiro Alejo Muniz. E foi o catarinense que acabou confirmando o título mundial para Gabriel Medina ao barrar o seu outro concorrente, Mick Fanning, na repescagem para as quartas de final.
“Este é o dia mais feliz da minha vida. É incrível que a gente tem um sonho e hoje se tornou realidade, então não estou mais sonhando, é verdade, mas ainda nem consigo acreditar”, disse Gabriel Medina.
“Sei que este não era um sonho só meu, mas da minha família também e de todos os brasileiros. Muitos caras tentaram, o Fábio Gouveia e o Teco Padaratz que abriram as portas do circuito mundial para nós, o Adriano de Souza, mas não sei porque que Deus me escolheu para conseguir isso e só tenho que agradecer a Ele e a todos que torceram por mim, que sei que são muitos. Eu amo surfar e se não tivesse dinheiro em jogo eu iria surfar porque amo fazer isso e este título não é só meu, é para todos nós brasileiros”.
Com a passagem de Medina para a quarta fase, o australiano Mick Fanning já precisava da vitória no Pipe Masters para impedir o primeiro título do Brasil na história do WCT, mas perdeu para Alejo Muniz e terminou em nono lugar como vice-campeão mundial de 2014.
Medina já estava na água disputando a quarta de final verde-amarela com o também paulista Filipe Toledo quando ouviu o anúncio e saiu para festejar o título, mas voltou ao mar e ainda venceu a bateria. Depois passou por Josh Kerr para se tornar o segundo brasileiro a ser finalista em Pipeline, repetindo o feito do carioca Pepê Lopes no primeiro ano do Circuito Mundial, que ficou em sexto lugar naquela final de 1976 composta por seis competidores.
Final eletrizante
A decisão foi emocionante do início ao fim. Começou com Julian Wilson saindo de um tubo incrível no Backdoor que recebeu nota máxima de dois dos cinco juízes, com a média ficando em 9,93. Mas, Medina logo deu o troco em outro tubaço ainda mais fantástico, sumindo na cortina d´água e reaparecendo com o spray já com os braços para cima para ganhar nota 10 unânime.
Depois pegou um nas esquerdas de Pipeline que valeu nota 8 e liderou toda a bateria, até a série que entrou no último minuto. O australiano achou outro tubão nas direitas do Backdoor e saiu em pé vibrando com a onda que poderia lhe dar a vitória, mas Medina também pegou uma bomba nas esquerdas de Pipeline, sumiu lá dentro e surgiu depois da baforada do spray também festejando com os punhos cerrados para a vibração da praia.
Os dois saíram do mar sem saber das notas, mas certos de que seriam altas. A primeira a ser divulgada foi a 9,70 de Julian Wilson que já superava os 18,00 pontos de Medina, que ficou precisando de 9,63 pontos para confirmar a primeira vitória brasileira no Pipe Masters. Ele já era carregado pelos ombros da torcida quando saiu a nota 9,20, mas a derrota não diminuiu a festa verde-amarela nas areias de Pipeline.
Se vencesse, Gabriel Medina seria o primeiro surfista da história a ganhar as etapas nas esquerdas mais desafiadoras do Circuito Mundial, pois neste ano já havia faturado o título nas ilhas Fiji e também nos temidos tubos de Teahupoo, no Taiti. Ainda assim, conquistou o melhor resultado de um brasileiro no templo sagrado do esporte na ilha de Oahu, com o vice-campeonato no Billabong Pipe Masters.
“Foi um ano incrível. Eu já nem consegui acreditar que tinha vencido em Snapper Rocks (na Gold Coast, Austrália), nem quando ganhei em Fiji e depois em Teahupoo numa final contra o Slater. Mas, eu queria vencer aqui em Pipeline também, só que o Julian (Wilson) me tirou o título ali no final, mas tudo bem, estou muito feliz do mesmo jeito porque o sonho já estava realizado, que era ser campeão mundial”, disse Gabriel Medina.
“Eu me sinto muito honrado de estar aqui, eu amo surfar Pipeline e Backdoor e poder fazer isso com os melhores surfistas do mundo é indescritível, ainda mais disputando um título mundial contra caras como o (Kelly) Slater e o Mick (Fanning), que sempre foram uma inspiração para mim desde quando eu era um garoto e nem sonhava estar aqui”.
Campanha do título mundial dde Gabriel Medina
1.a etapa: Campeão do Quiksilver Pro Gold Coast na final contra Joel Parkinson na Austrália
2.a: 5.o lugar no Drug Aware Pro Margaret River perdendo para Josh Kerr nas quartas de final
3.a: 9.o lugar no Rip Curl Pro Bells Beach perdendo para Adriano de Souza na quinta fase
4.a: 13.o lugar no Billabong Rio Pro perdendo para Travis Logie na terceira fase da etapa brasileira
5.a: Campeão do Fiji Pro na final contra Nat Young nos tubos de Cloudbreak na ilha de Tavarua
6.a: 5.o lugar no J-Bay Pro perdendo para Owen Wright nas quartas de final na África do Sul
7.a: Campeão do Billabong Pro Teahupoo na final contra Kelly Slater no Tahiti
8.a: 5.o lugar no Hurley Pro Trestles perdendo para Adrian Buchan nas quartas de final nos EUA
9.a: 5.o lugar no Quiksilver Pro France perdendo para Josh Kerr nas quartas de final em Hossegor
10.a: 13.o lugar no Rip Curl Pro Peniche perdendo para Brett Simpson na terceira fase em Portugal
11.a: Vice-campeão no Billabong Pipe Masters vencido por Julian Wilson nos tubos do Backdoor
World Surf League
O título mundial de Gabriel Medina foi o último da história da Association of Surfing Professionals (ASP), entidade que em 1983 substituiu a International Professional Surfers (IPS) que organizou o circuito desde o seu início em 1976 até 1982. A partir de 2015, a ASP muda de nome para World Surf League com a sigla WSL.
O primeiro campeão do Brasil agora pode inaugurar uma nova Era e já marcou isso sendo o primeiro surfista a conquistar o título com 20 anos de idade desde Kelly Slater em 1992, quando Medina ainda não tinha nem nascido, pois só veio ao mundo em 22 de dezembro do ano seguinte.
O Pipe Masters também definiu a relação final dos top-34 que vão disputar o primeiro título mundial da World Surf League no ano que vem. No entanto, ninguém conseguiu ingressar no grupo dos 22 primeiros colocados no ranking que são mantidos na elite.
Quem mais carregou a esperança de conseguir isso foi o brasileiro Alejo Muniz, no entanto ele necessitava da vitória no Havaí para permanecer no WCT. Ele até se destacou ao derrotar o onze vezes campeão mundial Kelly Slater e o tricampeão Mick Fanning surfando ótimos tubos no Backdoor, mas parou no australiano Adrian Buchan nas quartas de final e terminou em 26.o lugar no ranking final do Samsung Galaxy ASP World Championship Tour 2014.
Além de Alejo Muniz, quem também ficou de fora do grupo que vai disputar o título mundial no ano que vem o carioca Raoni Monteiro. Mas, o número de sete brasileiros que disputou o último WCT da ASP será o mesmo no primeiro circuito da World Surf League, com o paulista Wiggolly Dantas e o potiguar Italo Ferreira sendo as duas novidades classificadas pelo G-10 do Qualification Series para substituí-los na seleção verde-amarela de 2015. Eles serão os reforços na equipe comandada pelo novo campeão mundial Gabriel Medina, os também paulistas Adriano de Souza, Filipe Toledo e Miguel Pupo e o potiguar Jadson André.
Temporada verde-amarela
O inédito título de Gabriel Medina no WCT consagrou uma temporada verde-amarela no Circuito Mundial deste ano. O também paulista Filipe Toledo foi o número 1 do ASP Qualification Series e a cearense Silvana Lima confirmou o seu retorno a elite das top-16 do WCT também em primeiro lugar neste mesmo ranking da categoria feminina.
O Brasil ainda ficou muito próximo de conquistar mais dois títulos mundiais em 2014, com o carioca Phil Rajzman no Longboard e o paulista Deivid Silva no Pro Junior. Ambos foram vice-campeões nas finais contra o australiano Harley Ingleby e o português Vasco Ribeiro, respectivamente. Nos pranchões, a carioca Chloe Calmon também conseguiu um feito inédito para o Brasil com o terceiro lugar conquistado nas semifinais do Mundial de Longboard na China.
Alejo Muniz despachou os concorrentes de Medina, mas não conseguiu vaga nos top-22 do WCT. Foto: Laurent Masurel / ASP.
Resultados do último dia do Pipe Masters:
Campeão: Julian Wilson (AUS) por 19,63 pontos (notas 9,93+9,70) – US$ 100.000 e 10.000 pontos
Vice-campeão: Gabriel Medina (BRA) com 19,20 (notas 10,00+9,20) – US$ 40.000 e 8.000 pontos
Semifinais:
3.o lugar com US$ 20.000 e 6.500 pontos:
1.a: Gabriel Medina (BRA) 13.60 x 9.43 Josh Kerr (AUS)
2.a: Julian Wilson (AUS) 13.16 x 3.17 Adrian Buchan (AUS)
Quartas de final:
5.o lugar com US$ 15.000 e 5.200 pontos:
1.a: Gabriel Medina (BRA) 4.30 x 3.27 Filipe Toledo (BRA)
2.a: Josh Kerr (AUS) 6.00 x 4.04 John John Florence (HAV)
3.a: Adrian Buchan (AUS) 12.17 x 3.77 Alejo Muniz (BRA)
4.a: Julian Wilson (AUS) 17.83 x 2.77 Kai Otton (AUS)
Quinta fase:
Vitória=Quartas de Final / Derrota=9.o lugar com US$ 12.500 e 4.000 pontos:
1.a: Filipe Toledo (BRA) 14.66 x 3.84 Owen Wright (AUS)
2.a: Josh Kerr (AUS) 14.00 x 10.84 Michel Bourez (TAH)
3.a: Alejo Muniz (BRA) 6.53 x 2.84 Mick Fanning (AUS)
4.a: Julian Wilson (AUS) 17.46 x 10.34 Sebastian Zietz (HAV)
Quarta fase:
Vitória=Quartas de Final / 2.o e 3.o=Repescagem:
1.a: 1-John John Florence (HAV)=6.74, 2-Michel Bourez (TAH)=6.40, 3-Owen Wright (AUS)=5.93
2.a: 1-Gabriel Medina (BRA)=15.67, 2-Filipe Toledo (BRA)=15.23, 3-Josh Kerr (AUS)=4.97
3.a: 1-Adrian Buchan (AUS)=6.86, 2-Mick Fanning (AUS)=6.47, 3-Julian Wilson (AUS)=6.43
4.a: 1-Kai Otton (AUS)=7.06, 2-Sebastian Zietz (HAV)=4.54, 3-Alejo Muniz (BRA)=1.27
Terceira fase:
Derrota=13.o lugar com US$ 9.500 e 1.750 pontos:
1.a: John John Florence (HAV) 16.33 x 12.16 Adam Melling (AUS)
2.a: Owen Wright (AUS) 12.20 x 11.17 Fredrick Patacchia (HAV)
3.a: Michel Bourez (TAH) 9.67 x 7.00 Matt Wilkinson (AUS)
4.a: Josh Kerr (AUS) 10.50 x 7.87 Jadson André (BRA)
5.a: Filipe Toledo (BRA) 12.17 x 5.17 Miguel Pupo (BRA)
6.a: Gabriel Medina (BRA) 17.66 x 11.84 Dusty Payne (HAV)
7.a: Julian Wilson (AUS) 9.40 x 1.40 Kolohe Andino (EUA)
8.a: Adrian Buchan (AUS) 11.53 x 1.33 Bede Durbidge (AUS)
9.a: Mick Fanning (AUS) 10.84 x 7.67 Jeremy Flores (FRA)
10: Sebastian Zietz (HAV) 8.93 x 6.76 Joel Parkinson (AUS)
11: Kai Otton (AUS) 10.67 x 9.44 Nat Young (EUA)
12: Alejo Muniz (BRA) 15.50 x 13.10 Kelly Slater (EUA)
Top-22 do Samsung Galaxy ASP World Tour 2014 - 11 etapas com 2 descartes:
Campeão mundial: Gabriel Medina (BRA) – 62.800 pontos
2.o: Mick Fanning (AUS) – 55.350
3.o: John John Florence (HAV) – 51.400
4.o: Kelly Slater (EUA) – 50.050
5.o: Michel Bourez (TAH) – 46.000
6.o: Joel Parkinson (AUS) – 43.100
7.o: Jordy Smith (AFR) – 42.900
8.o: Adriano de Souza (BRA) – 42.250
9.o: Taj Burrow (AUS) – 41.700
9.o: Josh Kerr (AUS) – 41.700
11: Kolohe Andino (EUA) – 35.900
12: Owen Wright (AUS) – 34.150
13: Nat Young (EUA) – 31.150
14: Julian Wilson (AUS) – 28.750
15: Adrian Buchan (AUS) – 28.700
16: Bede Durbidge (AUS) – 28.450
17: Filipe Toledo (BRA) – 28.150
18: Kai Otton (AUS) – 26.200
19: Miguel Pupo (BRA) – 25.900
20: Sebastian Zietz (HAV) – 21.450
21: Fredrick Patacchia (HAV) – 21.250
22: Jadson André (BRA) – 20.750
Os 10 que se classificaram para o WCT 2015 pelo Qualification Series:
1.o: Matt Banting (AUS) com o 2.o lugar no ranking vencido por Filipe Toledo
2.o: Wiggolly Dantas (BRA) – 4.o no ranking
3.o: Adam Melling (AUS) – 6.o no QS e 24.o no WCT
4.o: Italo Ferreira (BRA) – 7.o no QS
5.o: Matt Wilkinson (AUS) – 8.o no QS e 23.o no WCT
6.o: Keanu Asing (HAV) – 9.o no QS
7.o: Dusty Payne (HAV) – 10.o no QS
8.o: Jeremy Flores (FRA) – 11.o no QS e 33.o no WCT
9.o: Brett Simpson (EUA) – 13.o no QS e 31.o no WCT
10.o: Ricardo Christie (NZL) – 16.o no QS
Saíram dos top-34 para o WCT 2015:
24.o no WCT: C. J. Hobgood (EUA) – 17.700 pontos
26.o: Alejo Muniz (BRA) – 17.650
27.o: Aritz Aranburu (ESP) – 14.250
28.o: Dion Atkinson (AUS) – 14.200
29.o: Tiago Pires (PRT) – 13.000
30.o: Mitch Crews (AUS) – 11.750
32.o: Travis Logie (AFR) – 10.500
35.o: Raoni Monteiro (BRA) – 4.500
FONTE: João Carvalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário