Na noite desta terça-feira, contra o Icasa, o técnico Gilson Kleina terá o volante de 32 anos ao seu lado pela primeira vez. "Sempre gostei muito dos jogadores que se entregavam totalmente, seja o goleiro, o centroavante ou o lateral. É o que o torcedor quer ver", afirmou Eguren, que ficou impressionado com a massa palmeirense quando enfrentou o clube na última edição da Copa Libertadores, pelo Libertad.
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Volante Eguren foi apresentado neste mês pelo Palmeiras
Companheiro de astros como Forlán, Suarez e Cavani no quarto lugar do Mundial-2010 e no título da Copa América-2011, o volante espera render o suficiente no Palmeiras para permanecer na seleção uruguaia até 2014. Por outro lado, ele evita cobiçar a vaga atualmente ocupada por Márcio Araújo no time armado por Gilson Kleina para retornar à Série A do Campeonato Brasileiro.
Bem articulado, Sebastián Eguren concedeu entrevista pouco depois de sofrer para marcar o meia Valdivia em um treinamento. Durante mais de uma hora de conversa, o meio-campista navegou de forma segura em meio a questionamentos sobre os mais diversos assuntos com uma desenvoltura difícil de encontrar em jogadores de futebol.
No Libertad, você tinha a concorrência do Guiñazu e estava na reserva. A necessidade de jogar pensando na Copa do Mundo de 2014 pesou na sua decisão de aceitar a proposta do Palmeiras?
Eguren: Se eu estivesse disputando todos os jogos no Libertad, teria sido difícil sair. Como não estava jogando tanto quanto queria, abriu-se essa possibilidade. Foi uma decisão do clube e minha de que eu pudesse sair se surgisse uma proposta importante. A chance apareceu e, com a idade e o desejo de jogar em um time grande que tenho, não poderia deixar escapar. Pensando em 2014, não há melhor preparação do que estar em um time grande do Brasil, jogando com a pressão de ganhar sempre e querendo conquistar todos os campeonatos.
O técnico da seleção chilena veio assistir a um jogo do Valdivia recentemente, e você também planeja disputar a Copa do Mundo de 2014. Já o Barcos ficou receoso com a Série B e acertou com o Grêmio...
Eguren: Essas são decisões pessoais. Não conheço o Barcos. São decisões que você toma na vida profissional. Essa é minha decisão. Estou 100% seguro e feliz, porque sinto que estou no lugar certo.
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"Sinto que estou no lugar certo", disse Eguren
Segundo o Barcos, o Alejandro Sabella, técnico da seleção argentina, deu a entender que não iria convocá-lo em um time da Série B. Você chegou a falar com o Óscar Tabárez sobre a transferência para o Palmeiras?
Eguren: Não, porque foi tudo muito rápido. Além disso, você precisa manter sempre um respeito em relação ao treinador. O jogador não pode ter muita proximidade, porque o técnico deve tomar suas decisões acima de qualquer questão pessoal. Os técnicos têm que escolher os jogadores pelo que precisam dentro de campo e no grupo. Um eventual questionamento da minha parte poderia contaminar essa relação.
Você não ficou um pouco receoso por jogar em um time que atualmente disputa a Série B do Campeonato Brasileiro?
Eguren: Não pensei nisso. Não sei como é exatamente aqui no Brasil, mas, no exterior, o Palmeiras é um time grande e conhecido no mundo inteiro. Realmente não estou falando da boca para fora. Todos se lembram daquele time da Parmalat, com muitos jogadores que depois você via com a camisa da Seleção, como Roberto Carlos, Cafu, Mazinho, Arce e o Marcos, mais recentemente. Isso é um clube grande: com títulos e jogadores de peso na história do futebol.
Há muitos sul-americanos bem-sucedidos no Brasil, como Montillo (Santos), D'Alessandro e Forlán (Internacional) e Guerrero (Corinthians), entre outros. Atualmente, é melhor para vocês jogar aqui do que aceitar uma proposta de um time menor da Europa, por exemplo?
Eguren: Sim. Eu diria que o mercado abriu a possibilidade de que viéssemos jogar aqui. Atletas de prestígio, como Lugano, Guinãzu e Tevez, vieram antes e atuaram muito bem, o que abriu as portas para outros jogadores. Além disso, times brasileiros que conseguiram coisas importantes tinham sul-americanos. Para nós, sempre foi importante jogar no Brasil, mas antes era um mercado bem mais difícil de entrar. Depois que acaba a Libertadores, o Brasil vive em seu próprio mundo. Futebolisticamente e culturalmente, pelo idioma e por alguns costumes, o Brasil sempre ficou um pouco à parte.
Em tese, o seu concorrente por uma vaga de titular no Palmeiras é o Márcio Araújo, o jogador que mais defendeu o clube no atual elenco. Como você imagina que será a concorrência com ele?
Eguren: No futebol, as coisas são muito simples. Você precisa trabalhar e deixar o resto nas mãos do treinador, que é o responsável por escolher. Já entendi faz tempo que cada jogador tem que aprender seu papel e exercê-lo da melhor maneira possível, seja jogando cinco, 45 minutos ou a cada três partidas. Os objetivos principais do Palmeiras são voltar à Série A e disputar a Copa do Brasil. Quando o clube consegue seus objetivos, não importa se o jogador atua dois ou 2 mil minutos.
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Apresentado com a 4, Eguren vestirá a camisa 5
Mesmo nos primeiros treinamentos com o Palmeiras, percebemos que você gosta de falar bastante e orientar seus companheiros. É uma das suas características?
Eguren: É um pouco pela posição. Gosto muito que os zagueiros e o goleiro conversem comigo continuamente. No meu caso, oriento os que estão à minha frente. Como eu disse, todos têm o seu papel dentro de campo e dentro do grupo. Para isso, é sempre necessário contar com a humildade de quem escuta. Se você fala e o outro não escuta, não adianta nada.
O Palmeiras é um time que não costuma conversar muito em campo. Mesmo o Henrique, atual capitão, não tem essa característica de falar tanto...
Eguren: O Palmeiras tem seus líderes. Contamos com um capitão e jogadores com muita experiência. Mesmo o Márcio Araújo, que vem jogando como volante, é um atleta bem experiente. O jogador não precisa falar muito, e sim o justo. Talvez eu fale muito e outro que fala menos acabe ajudando mais. O fundamental é você ser como é.
Você está tendo trabalho para marcar o Valdivia em alguns treinamentos...
Eguren: É um jogador de muita classe, de primeira linha. Eu o enfrentei pela seleção e é difícil marcá-lo. Às vezes, você imagina que a bola não pode passar por aí, mas com ele passa. É um jogador diferenciado, que proporciona ao time algo especial. Podem pensar que o Jorge é um pouco lento, mas ele tem um arranque nos primeiros três metros que deixa o marcador para trás. Depois, fica difícil alcançá-lo, a não ser com alguma falta. Por sorte, agora o tenho do meu lado e não preciso sofrer com ele. Ele está indo muito bem, sobretudo com responsabilidade na hora de jogar, assumindo sua liderança futebolística em campo.
Como está a expectativa para finalmente estrear com a camisa do Palmeiras?
Eguren: Desde que cheguei, estou dando o máximo em cada treinamento, conhecendo os companheiros e o desejo do treinador. Espero com paciência o momento de entrar em campo. O time está ganhando, jogando bem e melhorando. Estamos conseguindo alcançar nossos objetivos e teremos muitas partidas nos próximos meses. Precisamos ter paciência e estar preparados para quando o técnico chamar. Estou tranquilo. Sinto que estou ótimo física e futebolisticamente para dar 100%.
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Eguren (esq) treina com Felipe Menezes (centro) e Alan Kardec, reforços do Palmeiras para a Série B
Como é seu estilo de jogo?
Eguren: Meus ídolos sempre foram os artilheiros ou aquele número 10 que joga muito bem, mas meu estilo não é esse. Sempre gostei muito dos jogadores que se entregavam totalmente, seja o goleiro, o centroavante ou o lateral. É o que o torcedor quer ver. Você pode errar, mas se está com a intenção de acertar e deixando sua vida em campo, o torcedor volta para a casa tranquilo, e o jogador também.
Pela fase de grupos da Copa Libertadores, o Libertad fez dois jogos contra o Palmeiras. Quais foram as suas sensações, especialmente na partida disputada no Pacaembu?
Eguren: Vou ser sincero. Eu estava no banco no Pacaembu e achei incrível o apoio da torcida durante os 90 minutos com um barulho ensurdecedor. Foi algo impressionante. É normal que a torcida apoie e você escute, mas aquele dia realmente o Palmeiras precisava da torcida, porque era um jogo difícil e a classificação estava em jogo. Comentávamos no banco que era impossível se comunicar sem gritar. Senti um Palmeiras de Libertadores. Espero que a torcida continue assim. Quando o jogador fica muito cansado ou falha em alguma coisa, sente a torcida e ganha uma força especial.
No Libertad, você jogou ao lado do Mendieta, recentemente contratado pelo Palmeiras. Ele parece ser uma pessoa muito tímida...
Eguren: Ele é jovem e vive a primeira experiência fora do Paraguai. O jogador precisa crescer aos poucos, mas, quando você é estrangeiro, todo o mundo espera alguma coisa para ontem. Precisam ter paciência. Ele é um grande jogador e precisa se adaptar ao idioma, a uma cidade grande, a um time muito grande e à toda a pressão. O Mendieta vai jogar bem. O melhor para nós dois é que o Palmeiras está muito bem. Ganhando, querendo jogar melhor e correr mais.
Você já jogou na Noruega e na Suécia. Como foram as passagens por esses países do ponto de vista cultural?
Eguren: O lugar mais difícil de jogar foi a Noruega. Era a minha primeira vez fora do Uruguai, viajei sozinho e descobri que não sabia falar inglês. Também muda a moeda. São muitas coisas que um jogador de 20 anos precisa se acostumar rapidamente e, além disso, jogar bem futebol. Na Suécia, o mais importante foi que encontrei a minha mulher, com a qual tenho dois filhos. Tive contato com duas novas línguas, aprendi sueco e exercitei o inglês. São coisas que me fizeram melhorar e também ver outro ponto de vista na vida. Abri um pouco a cabeça.
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Eguren disputou Copa do Mundo com a seleção uruguaia
Você também passou pelo Villarreal e quase chegou a jogar na Itália. Foi negociado com a Lazio em 2010, mas o clube disse ter detectado uma anomalia cardíaca e desfez a transferência. O que realmente aconteceu?
Eguren: Essa situação foi um pouco estranha. Eu tinha jogado um pouco antes contra a própria Lazio e até fiz um gol. O presidente era o Claudio Lotito e, como bom italiano, quis fazer tudo rápido. Assinei o contrato, mas o clube disse que, supostamente, eu tinha uma pressão arterial que me impedia de jogar futebol. O mais estranho foi que nesse mesmo dia chegou um jogador alemão para a minha posição. Refiz os exames no Villarreal e não tinha absolutamente nada. Estou jogando até agora. Foi um pouco estranho, mas aprendi que essas coisas acontecem. As coisas que não matam te fazem mais forte.
Faltavam poucos meses para a Copa de 2010 e você precisava jogar. Depois da confusão com a Lazio, você retornou à Suécia para jogar no AIK e os torcedores do Hammarby, seu ex-time, chegaram a invadir um treino para protestar. Como foi esse episódio?
Eguren: Antes de aceitar a proposta do AIK, liguei para o Hammarby. Avisei que poderia jogar no outro clube da cidade e perguntei se tinham alguma oferta. Vivi anos muito bons no Hammarby. Fomos até campeões da Intertoto com uma classificação histórica à Uefa. As pessoas que são mais apaixonadas demonstraram sua insatisfação com minha chegada ao AIK. Entraram uns 40 ultras (torcedores mais radicais do Hammarby) em um treino, mas depois vivi no mesmo bairro dos torcedores, onde tenho minha casa até hoje, comi nos mesmos restaurantes, fui ao mesmo supermercado, e nunca me aconteceu nada.
Em 2004, como jogador do Nacional, seu time de coração, você teve um caso de doping. Quão difícil foi superar esse problema?
Eguren: A verdade é que tomei o chá de coca quando fomos jogar uma partida na altitude. A primeira suspensão foi de dois anos, mas, quando provei que era pelo chá, diminuiu para seis meses. Para mim foi complicado, porque era jovem e fiquei um pouco abalado. Eu me cuidava em tudo: comia bem, treinava, cumpria minhas obrigações. Sentia que não era justo, porque a responsabilidade naquele caso era mais do médico que permitiu aos jogadores tomarem o chá. Outros também tomaram, mas apenas um faz o teste antidoping. Foi mais complicado para minha família do que para mim. Mas recuperei meu nível, voltei à seleção e cresci como pessoa.
Você não esconde o carinho pelo Nacional. Consegue acompanhar os jogos do seu time de coração enquanto está no exterior?
Eguren: É o time de toda a minha vida. Sigo a equipe desde criança todos os domingos e já sofri muito, porque nem todas as fases foram boas. É o clube que levo sempre no coração. Quando estou fora, acompanho no rádio e pela internet, mas, em linhas gerais, procuro viver o dia a dia do país onde estou e conhecer sua cultura. É bom que os jogadores mantenham esse lado amador de acompanhar o time do coração. Assim, quando você defende as cores de um clube como o Palmeiras, pode se sentir torcedor também. Isso torna tudo mais bonito.
FONTE: ESPN
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