Bicampeão brasileiro pelo Fluminense em 2010 e 2012, bicampeão da Champions League, em 2004 pelo Porto e em 2006 pelo Barcelona. Apesar da diferença de quase uma década entre essas importantes conquistas, a categoria de Deco com a bola nos pés continua a mesma. A força física e a velocidade, porém, não mais. Aos 35 anos, o meia luso-brasileiro admite o desgaste e, mesmo com a motivação de buscar o primeiro título da Libertadores da carreira, cogita se aposentar do futebol no final deste ano.
"Hoje eu penso mais e corro menos", afirmou Deco, em um dos raros momentos que deu risada durante a entrevista exclusiva concedida ao ESPN.com.br, no Salão Nobre das Laranjeiras.
A seriedade de Deco nas palavras não significa um cara sisudo. Pelo contrário. Mostra uma pessoa articulada e com habilidade para opinar sobre diversos assuntos, da mesma forma que evidencia um atleta consciente de suas muitas qualidades e também das incômodas atuais limitações dentro de campo.
Além de falar sobre o desgaste físico e a possível aposentadoria, Deco fez um balanço positivo do seu desempenho em quase três anos no Fluminense, falou sobre as diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu, Copa Libertadores, mudanças do atual time do Tricolor em relação a 2012, entre outros assuntos.
Deco - Acho que o balanço é positivo, desde que cheguei ao Fluminense, o clube estava tentando montar um time para disputar títulos. Já tinha passado perto em 2008 na Libertadores, fazia muitos anos que não era campeão brasileiro e tinha comemorado não descer de divisão (2009), o que era praticamente impossível. Depois, montou um time com a vinda do Muricy para tentar ser campeão, passou 2011 um pouco complicado, e o ano de 2012 foi fantástico. Em três anos, o clube ganhou dois Campeonatos Brasileiros, o Campeonato Carioca, infelizmente ainda não conseguiu a Libertadores, mas acho que é um balanço positivo.
O que mudou dentro de campo no Deco de hoje, com 35 anos, em relação a quase dez anos atrás, quando você conquistou a Champions pelo Porto e depois pelo Barcelona?
Mudou que hoje eu penso mais e corro menos (risos). A verdade é que muda fisicamente, você não consegue ter a mesma velocidade, o mesmo ritmo, você tem que se adaptar a uma maneira de jogar diferente do que você jogava antes. É óbvio que eu não mudo como jogava, eu jogo na mesma posição, no meio-campo, mas com certeza antigamente eu tinha muito mais força, conseguia chegar mais ao ataque. Isso é natural, acontece com todo mundo, você vê o Seedorf jogando hoje, tem qualidade, mas por mais força que tenha, hoje não tem a mesma. A gente perde força, perde aquilo que tinha quando mais novo. Mas ganha em outras coisas, ganha em experiência, você corta caminhos, consegue jogar em um nível alto, com menos força que tinha antigamente.
Eu acho que não. Acho que para jogadores que são técnicos, é mais difícil jogar no Brasil, porque é muita correria, o desgaste é grande, são muitos jogos. Na Europa, se você estiver em um clube forte, em um time bom, acho que você consegue jogar até com mais facilidade.
O calendário do futebol brasileiro é desgastante, com muitos jogos em sequência de quarta-feira e domingo. Como você se prepara para essa maratona de jogos?
Mesmo na Europa, onde você tem menos jogos, os jogadores descansam para jogar jogos mais importantes. Os jogadores são poupados, porque a exigência é grande. Aqui, se você parar para pensar, a exigência é muito maior, fisicamente o desgaste é muito maior. O calor te desgasta muito mais, você tem que se preparar, tentar dar o melhor possível, mas não é fácil.
Acho que é em função do dia a dia. O treinador e a comissão técnica vão avaliando como as coisas estão acontecendo, como os jogadores vão reagindo aos jogos, ao momento, e vão avaliando.
O seu grande objetivo no moemnto é a Libertadores? E já tem planos sobre quando vai parar de jogar e se aposentar?
Eu falei que depois da Libertadores eu falaria um pouco o que iria acontecer. Eu tenho contrato com o Fluminense até o final do ano e pretendo cumprir, mas vai depender um pouco de como as coisas vão acontecer. Não sei, mas provavelmente esse pode ser o meu último ano.
Pensando nessas diferenças que você falou entre o futebol no Brasil e na Europa. Você acha que jovens, como o Neymar, precisam sair do país para evoluir?
Eu não acho que ele necessariamente precise ir jogar fora. O que acontece é que, por melhor que o futebol brasileiro esteja, você não compete com os melhores jogadores do mundo, como você compete numa Liga dos Campeões. Acho que a discussão sobre o Neymar não é o que ele vai aprender taticamente, aqui nós temos bons treinadores. O que acontece é que o grau de dificuldade na Europa é maior do que aqui, então você tem que se reinventar. E o fato de a seleção brasileira não jogar uma eliminatória para a Copa prejudica um pouco, porque você só pega jogos difíceis em amistosos de seleções, na Libertadores e em alguns jogos do Brasileiro. Então, acho que isso faz com que o nível de exigência não seja tão alto como seria se o Neymar estivesse jogando uma Liga dos Campeões, uma eliminatória da Copa, por exemplo.
Qual o seu desafio atual no Fluminense? O que ainda te motiva para continuar jogando?
Me motiva, primeiro ter uma história que foi bonita, não só no Fluminense, mas na minha carreira em todos os clubes. E conseguir fazer um ano bom, conseguir continuar jogando futebol e me sentir feliz. Eu sempre disse que é isso que me motiva: estar conquistando, competindo, tentando ganhar coisas importantes, estar num clube e estar disputando um torneio (como a Libertadores) da importância que tem para o Fluminense, para o torcedor, para nós, acho que isso é motivação suficiente.
FONTE: ESPN
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