FONTE: MADSON MORAES
A chegada do novo irmão muda a dinâmica familiar. Porém, se os pais e avós estão contentes com a chegada do bebê, o irmãozinho mais velho talvez não esteja tão animado assim. Acostumado a ser o centro de tudo, agora ele será obrigado a dividir a atenção com o irmão que está para chegar e nem sempre o primogênito aceita sem aquela 'ciumeira'.
Assim, muitos pais e mães têm de lidar com a manifestação de ciúmes dos pequenos. E algumas dessas atitudes costumam ser regidas por condutas regressivas, como voltar a usar chupeta, fazer xixi na cama novamente, utilizar uma linguagem bem infantil e até mesmo apresentar situações intensas de nervosismo e irritação.
Para Quézia Bombonatto, psicopedagoga e terapeuta familiar, é normal que o filho mais velho demonstre cenas de ciúmes, sinta-se inseguro ou até reaja com raiva em resposta ao nascimento do irmão. Isso porque a experiência do nascimento de um novo bebê está entre as mais estressantes para uma criança.
'Seu meio social sofre mudanças significativas que vão alterar a dinâmica familiar até então formada por mãe-pai-filho. Sem contar que o pequeno vai ter de dividir seu espaço com alguém que ainda não está preparado para interagir ou brincar com ele. Esse ciúme é uma forma de 'reclamar' a atenção, às vezes exclusiva, que a criança sente como perdida, relacionando ainda ao medo de deixar de ser amada', ressalta Quézia, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).
Entre as manifestações mais típicas desse ciúme, Mônica Valentim, mestre em psicologia experimental pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora em pediatria, explica que não há uma manifestação padrão, por assim dizer. Mas a especialista lembra que é importante observar quais comportamentos surgem diante de situações de compartilhamento ou privação da atenção do irmão mais velho.
'A criança pode ficar mais birrenta, manhosa, assim como apresentar uma regressão a comportamentos que já não apresentava mais', ressalta a psicóloga, autora do livro 'Por que falamos como bebês quando falamos com bebês?'. Mas, adverte a terapeuta familiar Roberta Palermo, um comportamento que os pais não devem tolerar é caso a criança fique agressiva e queira machucar o bebê.
'Ela não tem noção de sua força e não tem a intenção de machucar, mas pode usar sua força natural para expressar que está irritado com aquele bebê. Os pais não devem nunca deixar o bebê sem a supervisão de um adulto se a criança estiver por perto', ressalta Roberta, autora dos livros '100% madrasta – Quebrando as barreiras do preconceito' (Ed. Integrare) e 'Babá – Manual de instruções' (Mescla Editorial).
A terapeuta familiar Roberta Palermo explica que é normal o ciúme do irmão mais velho, mas diz que é fundamental que os pais ajudem a criança a elaborar recursos pra lidar com esse sentimento. 'Os pais, ao mesmo tempo em que precisam ensinar a criança a esperar, precisam atendê-la em sua necessidade nessa fase inicial que será uma adaptação para todos', explica Roberta, autora do livro '100% madrasta – Quebrando as barreiras do preconceito' (Ed. Integrare).
'Todo mamífero precisa ser cuidado por outros enquanto é bebê. O ser humano, entre todos os mamíferos, é o que tem uma infância mais longa, portanto, é o mais dependente desses animais. Se não houver alguém para alimentá-lo, protegê-lo, suas chances de sobrevivência ficam comprometidas', explica Mônica Valentim, mestre em psicologia experimental pela USP e doutora em pediatria.
E, para que isso ocorra, é fundamental que ele seja notado. Com a criança não é diferente: desde que nasce vai se dando conta de que consegue ter fraldas trocadas e outras necessidades atendidas atraindo a atenção dos adultos ao seu redor. E isso vai se tornando cada vez mais essencial. 'Assim, quando nasce um irmãozinho, as atenções naturalmente se voltam para a novidade. O pequeno que luta para reaver a atenção, no fundo, luta por sua própria sobrevivência', conta Mônica.
Entre as manifestações de ciúme do bebê é comum a criança voltar a chupar a chupeta ou o dedo, fazer xixi na cama, se opor a comer sozinha, ter problemas na escola, utilizar uma linguagem infantilizada, bem como ficar irritada ou nervosa. Sem contar a agressividade dissimulada, ou seja, a criança machuca o nenê quando vai fazer um carinho.
'Mas essas manifestações variam em função do temperamento do pequeno, da forma como a família lida com a situação e de como a criança foi preparada para a chegada do irmãozinho', explica Quézia Bombonatto.
Às vezes essa agressividade é contra a mãe, derramando o perfume, jogando a comida no chão. 'Pode acontecer do filho aceitar o novo irmãozinho e, a princípio, não demonstrar ciúmes. Mas quando o nenê crescer um pouquinho, começar a pegar os brinquedos do irmão e mexer nas suas coisas, eea começará as cenas de ciúmes', diz.
Para Quézia Bombonatto, os pais devem estimular os comportamentos positivos - como pedir ajuda nos cuidados com o nenê -, mostrando que aprecia a ajuda do filho nos cuidados com o irmão que acabou de nascer. 'Devem motivar o relacionamento com o bebê e ser firmes em relação às atitudes agressivas, mas sem fazer com que a criança se sinta culpada', explica a psicopedagoga.
Na opinião da terapeuta familiar Roberta Palermo, as atitudes positivas dos pais podem, sim, fazer a diferença. 'Eles devem mostrar ao filho que ele já é competente para ter atitudes de sua idade, o que é bem melhor do que ainda ser apenas um bebê. Estar crescido traz outras vantagens e os pais devem elogiar a criança sem ela ter que chamar a atenção feito bebê', explica.
A psicóloga Mônica Valentim ressalta que o ideal é que os pais reconheçam o direito que a criança tem de sentir ciúme, acolhendo suas emoções com bastante compreensão para, então, ajudá-la a agir de modo socialmente aceitável diante de seus sentimentos. Assim, o foco tem de ser colocado em ‘ensinar maneiras mais apropriadas’.
'É possível, por exemplo, dizer ao filho: eu sei que tem sido difícil, mas entenda que, por mais que eu tenha que cuidar do seu irmão ainda te amo e não vou te abandonar. Tente ter um pouco de paciência que eu já vou cuidar também de você. É importante lembrar que uma criança só continuará tendo comportamentos inadequados para chamar atenção se ninguém a ensinar alternativas melhores', adverte a psicóloga.
'Não vale a pena bater nem colocar de castigo. Por pior que seja a punição, considerando que o objetivo de obter atenção foi atingido, dificilmente a criança deixará de agir assim em função dessas consequências. A punição mostra o que não deve ser feito, mas não ensina o que se deve fazer. Ninguém nasce sabendo', explica Mônica, autora do livro 'Por que falamos como bebês quando falamos com bebês?'.
Caso a criança apresente dificuldades em demonstrar o que sente em relação ao seu irmão, ela poderá precisar de ajuda para falar sobre o que sente.
'O ciúme pode ser algo construtivo para a personalidade do indivíduo e, a partir desse sentimento, ele vai começar a se preparar para a competitividade da vida. Mas, quando não tiver uma intervenção adequada, pode se transformar em um sentimento altamente destrutivo que transitará para a vida adulta com características de vitimização', afirma Quézia.
Para a psicóloga Mônica Valentim, em hipótese, isso poderia criar um clima de animosidade ou competitividade entre os irmãos que perdurasse na idade adulta. 'Já vi casos de pessoas na meia-idade ainda disputando a atenção dos pais', conta.
Os pais devem contar depois do 3º mês, quando é mais garantido não perder o bebê. E devem falar animados em como será bom receber um novo membro na família. 'A criança terá companhia para passeios e brincadeiras, vai poder ajudar na compra de roupinhas, ir ao ultrassom para ver o irmãozinho, poderá ganhar um item novo no quarto dele quando começar a arrumar o quarto do bebê', opina Roberta Palermo.
Outra dica é chamar a criança para participar dessa 'festa' desde o começo. 'Há famílias que vivem uma expectativa coletiva na qual a mais velha é inserida e convidada a vivenciar o acolhimento do novo membro ativamente. Nesses casos, observam-se menos manifestações de ciúme, ao menos em sua forma mais negativa, que é mais comum quando a criança se sente excluída', ressalta Mônica Valentim.
A psicopedagoga Quézia Bombonatto conta que a chegada do novo irmão deve acarretar as menores alterações possíveis na vida da criança. Assim, este não é o momento adequado de fazer mudanças (de quarto, de entrar ou mudar de escola) ou mesmo pedir que o filho ceda seu berço ao irmãozinho.
'Se estas mudanças forem necessárias, convém que sejam feitas antes do nascimento do bebê. Também é importante que a criança não se sinta 'abandonada' durante o tempo em que a mãe estiver na maternidade. Por isso, explique com antecipação que a mamãe terá que se ausentar por alguns dias dando a ele a segurança de se sentir atendido e querido', explica.
As três especialistas concordam com essa atitude. 'É importante que a criança tenha oportunidade de participar dos cuidados e brincadeiras. Sempre sob a supervisão de um adulto. O filho mais velho se sentirá importante por ser responsável por pequenas tarefas', opina a terapeuta familiar Roberta Palermo.
'Pode colocar o nenê nos braços do irmão, incentivando-o a cuidar dele, mas com naturalidade e sem imposição', afirma Quézia Bombonatto. Mas, ressalta Mônica, o pequeno pode ajudar desde que ele deixe de ser cuidado para se tornar cuidador. 'É preciso que ele continue a ser criança e receba a atenção que necessita. Além disso, procure ensinar que cuidar também é gostoso e faz tão bem quanto ser cuidado. Essa pode ser uma outra alternativa de superar um pouco o ciúme', diz a psicóloga.
FONTE: MSN
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