O duelo entre Brasil e Rússia, pelas quartas de final do torneio olímpico feminino, se aproximava do fim. As russas tinham seguidas chances de terminar o duelo - foram, ao todo, seis match points. A poucos centímetros da linha que limita a quadra, no Earls Court, em Londres, José Roberto Guimarães tentava participar do jogo para além de suas funções como treinador. Vibrava com as atletas a cada ponto, pedia calma nos erros, reclamava com os juízes.
A cada vez que a seleção brasileira se mantinha viva na partida, Zé Roberto se inflava em emoção. Quando Fernanda Garay sacou pela última vez no jogo, o treinador ficou congelado. Com os pés quase dentro da quadra, ele só conseguiu reagir quando a bola atacada por Fabiana resvalou no braço da líbero Kryuchkova e não voltou mais para a quadra brasileira.
"Foram peixinhos de alegria. Eu não tinha outra coisa a fazer, queria sair dando peixinho no ginásio inteiro para comemorar. Fazia uns dez anos que nao dava tanto peixinho. Acredito muito em mantra, isso foi um mantra. Começamos ouvir principalmente no 4º set: ‘o campeão voltou’. A torcida jogou o time para cima, começamos a crescer", divertiu-se o treinador.
"Um momento como esse é para se comemorar muito. Foi no sofrimento, foi um jogo difícil", afirmou um Zé Roberto emocionado. Mas ele não se colocou no lugar da torcida apenas no ginásio do Earls Court. Ele pensou nos milhões de brasileiros que assistiram ao duelo em casa. "Para quem ficou assistindo em casa, roendo unha, desculpa."
Em maioria no ginásio, a torcida brasileira passou a participar mais efetivamente da partida no quarto set, quando as russas comandavam o placar por 2 a 1. "Quando estávamos atrás, eles levaram o time para cima o tempo todo e eu só tenho a agradecer. Esse mantra deu certo, o campeão voltou", disse o treinador na área de entrevistas, depois de ser abraçado por suas comandadas.
A explosão de Zé Roberto encontra explicação pela magnitude do resultado. A Rússia havia vencido os brasileiros nas decisões dos Mundiais de 2006 e 2010; além da sempre lembrada queda na semifinal dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. "Nós tínhamos de provar alguma coisa, infelizmente, mesmo ganhando da Rússia por 3 a 0 na Olimpíada passada, em Grand Prix. No Brasil, infelizmente, as pessoas colocam esse estigma de Rússia, da Gamova... Agora, acabou."
Mas a explosão de Zé Roberto tinha, ainda, outro motivo. A partida contra a Rússia foi um obstáculo gigantesco na busca das brasileiras pelo bicampeonato olímpico; mas não foi o único. "O período antes da competição aqui foi um dos piores que vivi como técnico. Nós tivemos de trabalhar muito fora de quadra. Trabalhar a tranquilidade, ajudar as garotas".
Na primeira fase, a seleção brasileira perdeu para Coreia do Sul e Estados Unidos e só avançou graças a uma combinação de resultados. "A Rússia era o rival mais difícil, mas sabia que teríamos de passar por ela em algum momento. Ontem, até falamos que era um momento importante para pegar a Rússia, e hoje aconteceu isso", afirmou o treinador, ainda afetado pelas emoções vividas em um dos grandes jogos da história do vôlei brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário