quinta-feira, 25 de julho de 2013

Entrevista Barton Lynch - Campeão mundial de 88 abre o jogo


Tom Curren, Mark Occhilupo, Gary Elkerton, Martin Potter, Tom Carroll, Derek Ho e Damien Hardman.

Esses foram alguns dos adversários que Barton Lynch (49) teve durante a carreira no circuito mundial, numa época de pouco dinheiro, quando rolavam diversas etapas e muitas em lugares de ondas ruins, bem diferente do atual Dream Tour.

“Na minha época, vencer uma bateria poderia significar correr ou não o próximo campeonato, então a gente tinha que lutar muito pra vencer”, disse ele numa das respostas a entrevista que concedeu, com exclusividade, ao Ricosurf.

Campeão do tour de 1988 e do circuito de acesso de 1993, quando deixou Fabio Gouveia em segundo e Renan Rocha em terceiro, Barton atualmente divide seu tempo entre o surf, o snowboard, o treinamento de atletas da nova geração e o trabalho com a Hurley. “Minha vida está ótima!”

Nas linhas abaixo você confere tudo o que esse australiano, que venceu no Rio três anos antes de se aposentar em 1998, fala sobre as principais mudanças no tour que aconteceram nos últimos tempos, os adversários mais difíceis que teve na carreira, quem são os aussies que podem substituir Mick, Joel e Taj, a evolução dos atletas brasileiros e muito mais, além de deixar um recado para a nova geração:

“Acredite em suas habilidades, no seu desejo e em suas metas. E independente de qualquer coisa siga em frente, continue tentando com toda a garra que puder para conquistar seus sonhos.”

Barton em Pipe. Foto: arquivo pessoal.
Carlos Matias - O que você tem feito ultimamente? Como tem sido sua vida?

Barton Lynch - Minha vida está ótima! Moro com minha esposa Holly em Whale Beach, praia localizada ao norte de Sydney, onde vivi durante a infância. Minha filha Tamarin, de 19 anos, mora pertinho da nossa casa e está feliz e saudável.

Passamos o maior tempo possível no North Shore, em Sunset Beach, e estivemos lá por 3 meses e meio nesta última temporada. Foi demais!

Continuo amarradão com o surf e com outros esportes radicais também, principalmente o snowboard, que me deixou amarradão nestes últimos meses.

Eu também passo muito tempo na praia treinando surfistas de todos os níveis e também trabalhando com a Hurley em meu evento, o BL's Blast Off, e como embaixador, comentarista webcast e treinador da equipe júnior.

O snowboard tomou o lugar do surf na sua lista de esportes preferidos? Como tem sido dividir a água salgada com as montanhas geladas?

Sim, eu absolutamente amo snowboard e todo o ambiente de montanha/alpes.

A velocidade é muito emocionante! Nada é melhor do que definir a sua trilha e ir esculpindo o caminho no gelo. Na verdade, flutuar na neve fofa e recém caída é o melhor. Junte as duas coisas e você está tendo o melhor momento de sua vida.

Todos os anos nós passamos um bom pedaço do inverno australiano nas montanhas e depois tentamos fazer uma viagem de inverno no hemisfério Norte. Este ano fomos para a estação de esqui Big White, no Canadá.

Barton também manda bem no snowboard. Foto: arquivo pessoal.
E seu trabalho com a garotada da nova geração do surf australiano?

É irado! Tenho treinado a molecada da nova geração individualmente, em grupos e na equipe Hurley.

E todo ano, no final de setembro, acontece meu campeonato para a molecada, chamado "BL's Blast Off", apresentado pela Hurley. Este ano vai rolar de 23 até 26 de setembro em Palm Beach.

No ano passado, 350 crianças participaram dos 4 dias do programa de treinamento / campeonato e este é o oitavo ano. Hoje é o maior evento da molecada na Austrália.

Da nova geração do surf aussie, quem são os surfistas que podem assumir os lugares de Mick, Joel e Taj?

Esses três são incríveis e será preciso um excelente surfista e competidor para se igualar a esses caras.

Acho que tem uma molecada com potencial. Com certeza o Owen Wright é um talento que se destaca. No WQS, temos, por exemplo, Mitch Crews, Wade Carmichael, Jack Freestone e Cooper Chapman.

Matt King é o atual campeão Sub 18 e tive uma pequena participação no desenvolvimento dele como atleta.

Temos também Mikey Wright e alguns outros com muito talento. Quem desejar mais chega lá!

Mas eles vão ter um trabalho bem pesado com os brasileiros, americanos e havaianos que estão se destacando com alguns moleques alucinantes.

Você acompanha o que acontece no circuito mundial, costuma assistir às disputas ao vivo na internet?

Claro! Assisto sempre que posso. De vez em quando não dá porque estou trabalhando, viajando... Mas adoro assistir eventos e acompanhar o tour.


Rob Machado, Rabbit Kekai e Barton. Foto: arquivo pessoal.
Como você tem visto a evolução dos atletas brasileiros?

Acho que os brasileiros são os mais dinâmicos e competitivos do mundo, e que ninguém quer mais o sucesso do que eles.

Eles têm a garra necessária para serem os melhores, e tenho certeza que teremos um campeão mundial brasileiro em breve.

Existem tantos excelentes atletas brasileiros surgindo no ranking, que o resto do mundo está ficando preocupado, já que o domínio dos australianos, americanos e havaianos está ameaçado.

A geração goofy brasileira tem o potencial para ser a melhor que já existiu. Surfistas como Miguel Pupo, Gabriel Medina, Heitor Alves, Ricardo Dos Santos, Jadson André, Wiggolly Dantas, Jesse Mendes e tantos outros, têm deixado nós goofys muito orgulhosos.

O que você acha que falta para um brasileiro se tornar o número um do mundo?

Acho que é só questão de tempo, com certeza vai acontecer. Quem vai ser eu não sei, mas por enquanto Adriano e Gabriel são os principais caras para conseguir isso.

Adoro a forma como eles disputam, são agressivos e competitivos em todas as situações e nunca deixam seus oponentes relaxarem.

Há muitos caras que parecem felizes apenas em correr o tour e não tantos que demonstrem precisar vencer, que são capazes de tudo pelo título, por isso amo tanto os brasileiros, pois, em geral, eles mostram uma força de vontade surreal, que é necessária para chegar ao topo.


Barton Lynch. Foto: arquivo pessoal.

Quais foram as principais mudanças que aconteceram entre os circuitos das décadas de 80 e 90 para o atual?

A principal mudança foi que antigamente não tinha tanto dinheiro envolvido, então as disputas eram muito acirradas, porque as pessoas precisavam sobreviver.

Na minha época, vencer uma bateria poderia significar correr ou não o próximo campeonato, então a gente tinha que lutar muito pra vencer.

A geração anterior a minha era agressiva nas baterias. Se você pegasse o Shaun Tomson, Mark Richards ou Rabbit era certeza de uma bateria agressiva e disputada até o fim.

Mas quanto mais dinheiro entrava, mais os competidores relaxavam e começaram a se ligar que o mais importante era o surf e não a competição. Mas os caras que estão no topo sabem que competição é o que te leva à vitória, e que o principal é pegar as melhores ondas.

Os períodos de espera são irados, e o fato dos melhores surfistas do mundo pegarem as melhores ondas do mundo é uma excelente mudança. A gente não pegava as melhores ondas do mundo e quando chegávamos na praia era um crowd imenso. Mas tivemos que passar por isso para que o esporte pudesse crescer.

Voltando a 1995, como foi a sua vitória no Rio Surf Pro, nas ondas da Barra da Tijuca?

Foi um grande dia pra mim, na época me tornei o cara mais velho a vencer um WCT e foi uma das melhores performances que tive. Foi a primeira vez que pude competir com foco e energia apenas em meu desempenho, nem liguei pra quem surfava comigo, me concentrei apenas no meu surf.

Ainda é uma memória forte e positiva pra mim e uma conexão irada com o Brasil.

Ao longo de sua carreira você teve adversários como Tom Curren, Gary Elkerton, Martin Potter, Derek Ho, Damien Hardman, Tom Carroll e Mark Occhilupo. Deles, qual foi o que mais te deu trabalho dentro d’água?

Eram todos grandes surfistas e competidores, e acredito que tenha sido a geração mais competitiva de todas. A rivalidade não era entre duas ou três pessoas e sim entre dez. E qualquer um poderia vencer.

Foi uma época irada para o surf profissional e hoje são como família, meus irmãos. E quanto a quem me deu mais trabalho, acho que todos, em diferentes momentos. Todos que você mencionou já me venceram e os venci também. Foi uma época feroz como jovem profissional.

Tom Carroll e Barton no pódio. Foto: arquivo pessoal.
Revivendo a sua bela história no mundo do surf, o que te dá mais saudade?

Pra ser sincero não sinto falta, foi uma excelente época e incrível jornada, mas amo minha vida agora.

Eu surfo porque quero e não porque preciso. Ainda viajo, não tanto quanto antes, mas só vou para lugares que quero e não porque vão ter campeonatos.

Na verdade, sinto falta da liberdade que tinha, meu trabalho era surfar e só pensava nisso. Agora a vida é um pouco mais complicada e tenho sempre a preocupação de quando vou receber meu próximo salário.

A vida era mais simples, mas nós a tornávamos pesada e não sabíamos valorizar o que tínhamos de bom. A vida agora é mais dura, complicada, mas faço o possível para torná-la o mais leve possível. Apenas ame para ser livre.

E a vitória do Joel Parkinson, que colocou a Austrália novamente no topo do mundo?

A vitória do Parko foi incrível! E muito parecida com a do ano que ganhei. Ele veio atrás o ano inteiro e continuou lutando. No final as coisas foram se acertando e ele ganhou a recompensa.

Assisti a vitória da minha casa em Whale Beach, Sydney, e ele me fez chorar. Foi um momento histórico no surf e ele mereceu. É um grande surfista, competidor e campeão. Ele fez o país inteiro se orgulhar.

Barton continua com o surf afiado. Foto: arquivo pessoal.
O que você, como um campeão mundial, diria para um atleta em formação que tem o sonho de se tornar o número 1 do esporte?

Acredite em seu destino. Como uma pessoa ambiciosa que precisa vencer, você pode acabar colocando muita pressão em si mesmo e tendo momentos difíceis.

O ideal é passar pela vida tornando-a leve, se acreditar em você mesmo, da maneira que tem que ser, você pode escapar da armadilha de viver o emocional como em uma montanha russa durante suas baterias.

Acredite em suas habilidades, no seu desejo e em suas metas. E independente de qualquer coisa siga em frente, continue tentando com toda a garra que puder para conquistar seus sonhos.

FONTE: Carlos Matias

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