quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Cachorro, ladrão e -22ºC: 25 mil km pela América do Sul sobre um skate


 Acontecimento imprevisto; ação arriscada. Se existe alguém que conhece profundamente o significado da palavra aventura, esse alguém é Marcelo Gervásio Silva, ou Marcelo Pedal Verde, como é conhecido. O skatista carioca passou quase os últimos quatro anos percorrendo a América do Sul sobre rodas, sem motor, sem apoio e apenas com uma estrutura mínima para garantir sua sobrevivência pelas estradas. Os quase 25 mil km deixados para trás foram só o começo, ele garante. A próxima missão é muito mais ousada. O objetivo agora é repetir a façanha nos outros quatro continentes e completar uma inédita volta ao mundo.

- Meus recordes podem ser levados à frente para realizar a primeira volta ao mundo de skate, passando pelos cinco continentes. Estou começando a fazer esse projeto. Vou realmente fazer essa volta ao mundo. E não existe força neste mundo para me deter. Não consigo ver um problema. Bandido, guerra... não tenho medo - garantiu o skatista, de 48 anos.

A missão começou com uma promessa ao pai. Antes de o diretor de cinema Hélio Silva morrer, em 2004, o atleta prometeu que faria as maiores aventuras do mundo em seu nome. Desde então, segue à risca o plano de homenageá-lo. Marcelo, que já havia se arriscado andando de bicicleta pelo país, saltando de um navio e escalando, resolveu fazer do skate seu meio de transporte oficial e sua nova casa.


MONTAGEM GALERIA - Marcelo silva skate América do sul (Foto: Arquivo Pessoal)

Quase 25 mil km de skate 

Os primeiros “passos” da longa caminhada foram dados em 2009, percorrendo 2 mil km de Goiás ao Rio, em 45 dias. No ano seguinte, explorou o litoral do estado, completando os 180 km da Cidade Maravilhosa a Angra dos Reis em 14 horas. Mas o maior e mais ousado desafio ele encarou ao longo dos últimos dois anos ao atravessar a América do Sul indo da Guiana Francesa até o Ushuaia, extremo sul da Argentina. O percurso, dividido em duas partes, somou 21 mil km.

- Aconteceu de tudo nessas viagens: cachorro me perseguiu, encontrei com bandido, enfrentei um vento terrível na Patagônia e tive paralisação facial por causa do frio. Em todos os imprevistos que tive durante a viagem, tentei superar com paz, harmonia e dedicação. Tem que ter superação. Você não sabe o que vai acontecer. Tudo o que vem na sua frente é novo, imprevisível.

Atravessar a América do Sul de carro ou de ônibus já parece uma ideia meio maluca. Ela pode ficar mais surreal ainda se o “passeio” for feito em cima de um skate sem motor. Com orgulho, Marcelo faz questão de frisar que contou com quase nada além de muita raça para completar a façanha. Nas bagagens, acopladas nos dois extremos do skate, carregava cerca de 40kg divididos entre alimentação, barraca, ferramentas, roupas, material de higiene e segurança. Nem sempre, porém, o que levava com ele era o suficiente para evitar situações estranhas e desagradáveis.

- Atravessando uma das partes mais extensas da Argentina, eu não tinha como levar tanta água. Então, parei perto de uma lagoa, peguei água, mas ela parecia chorume. Mas coloquei para fazer o macarrão, coloquei queijo, salame e cozinhei. O gosto continuou horrível. Depois, quando fui dar uma volta pela lagoa, na primeira curva, tinham dois animais mortos. Eu pensei: “Não acredito que tomei essa água”. Essa foi terrível – contou.

Marcelo Silva encara desafio de skate (Foto: Lydia Gismondi)

O corpo, ainda que bem preparado, sofreu nos últimos dois anos. Um dos maiores inimigos foi o frio. Em vários momentos, pegou temperaturas abaixo de 0º C, a menor delas foi - 22º C. Em Bahia Blanca, na Argentina, chegou até a sofrer uma crise de hipotermia. No Uruguai, um acidente também quase ameaçou sua missão. Uma enorme pedra rolou sobre seu pé. Mesmo com o tornozelo quebrado, decidiu seguir mancando de Pocito até Montevidéu, onde foi medicado e se recuperou antes de retornar novamente para as estradas. 

- Não é loucura. Muitas pessoas te chamam de maluco. Mas teve uma intensa preparação física, onde eu treinava mais de três mil quilômetros de skate toda hora, tive a sorte de ter um acompanhamento médico do doutor Adilson Camargo também, e a PUC me ajudou na parte eletrônica. Então, teve uma estrutura.

Perigo constante

Marcelo Silva skate (Foto: Arquivo Pessoal)

Ninguém duvida que coragem é uma qualidade que o aventureiro tem de sobra. Ainda assim, ele não esconde que, em alguns momentos, sentiu medo. O perigo se aproximava quando caminhões passavam raspando por ele em alta velocidade, por exemplo. Mas o dia em que realmente viu a morte de perto foi quando acordou com uma arma apontada na sua cara. Por sorte, tudo não passou de um susto. O homem armado, na verdade, pensava ter visto um disco voador no meio do mato no lugar da barraca e resolveu ir atrás do “extraterrestre”. A curiosa e engraçada história acabou deixando o atleta famoso na Argentina. 

- Às vezes, acordava cedo e achava que não ia ter forças para continuar. Teve um dia que a ficha caiu e eu disse: “No dia que acordar e não tiver um perrengue para enfrentar, acho que não tem graça”. Uma vez sentei no meio fio e pensei no que estava fazendo ali. Logo depois, olhei para frente e veio um caminhão na minha direção. Aí eu pensei: “A princípio, se cuida e sai da estrada porque um caminhão pode te matar” – contou, às gargalhadas.

As dificuldades agregaram mais valor à façanha do skatista, que também foi recheada de momentos agradáveis e cenários paradisíacos. Os capítulos de tristeza, alegria e, principalmente, de muita aventura devem virar um livro em breve. Enquanto coloca no papel o que viveu nos últimos anos, já mira sonhos muito mais altos. Marcelo espera pelo reconhecimento do Guinness Book, o Livro dos Recordes, por sua missão na América do Sul e projeta percorrer os outros quatro continentes de skate, somando 50 mil km, durante três anos. Com o mundo no bolso, e nos pés, enfim terá a certeza de que pagou a promessa feita ao seu pai. 


Rio de Janeiro recebe feras do skate no Mundial Vertical

A Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, será palco da etapa carioca do Mundial de Skate Vertical. Alguns dos principais nomes da modalidade já confirmaram presença na competição, de 1º a 3 de fevereiro. O evento terá transmissão do SporTV na sexta-feira e no sábado, enquanto a final do skate individual será exibida pela TV Globo, dentro do Esporte Espetacular.

FONTE: GLOBO ESPORTE

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