quinta-feira, 31 de maio de 2012

170 mil, inseguro e sem conforto. Que saudade danada!



O Maracanã não existe mais. Foi violentado pela sanha incontrolável de cartolas e políticos capazes de chutar para longe um patrimônio histórico, cultural e afetivo de muita gente.

Destruíram o templo, como o talebã fez com as estátuas de Buda no Afeganistão. Já que estavam dispostos a torrar perto de R$ 1 bilhão ali, que deixassem o nosso Maraca em paz e erguessem uma "arena" em outro canto do Rio de Janeiro.




Eles não fizeram isso, nem pensaram. E agora os (ir)responsáveis correm o risco de sequer receberem a seleção da CBF na Copa das Confederações, ano que vem, tampouco no Mundial em 2014. Isso porque o Brasil só jogará no tal novo estádio se for ao menos a uma das decisões.

Vivemos outros tempos. Estádios hoje são mais seguros e confortáveis. E não pode ser de outro jeito. As coisas mudam com o passar dos anos e as transformações são inevitáveis. Sei bem disso.

Mas o propósito desse post não é discutir friamente sobre a segurança das esterilizadas arenas cheias de cadeiras retráteis e poltronas de couro para os mais abastados. Nas próximas linhas falaremos de emoção.



A emoção de estar no estádio lotado num domingo de grande jogo. Emoção que começava na compra do ingresso, guardado cuidadosamente no bolso mais seguro ou na parte mais secreta da carteira.

A euforia do encontro com os amigos na hora de rumar para o bom e velho Maraca. O trajeto até o estádio, o papo sobre o jogo, as histórias, a preocupação com o que estava por vir.

Esticando o pescoço na geral para ver um pedaço maior do gramado ou espremido entre os iguais a você no concreto da arquibancada. Sim, às vezes a gente até se irritava. Ficava na bronca por ter que passar por tamanha provação.




Mas tudo era por uma causa nobre. E valia a pena quando seu time se entregava em campo e... vencia. A explosão do gol no meio da galera, momento dividido com quem nunca viu mas, percebia-se, era idêntico a você.

Para um fanático por futebol, nada se compara aquilo. O cara do seu lado que reclamava do centroavante pelos gols perdidos já pensa em dar o nome dele ao filho. O outro que ainda se cheirava após ser alvo de um saquinho cheio de líquido estranho esquece a situação patética.




Todos juntos na euforia do gol em meio a 100 mil, 150 mil, 180 mil! Todos apaixonados por seus clubes e pelo futebol. E o orgulho no dia seguinte? Na escola, no trabalho. Orgulho de poder dizer aos amigos em meio a comentários sobre a peleja: "Eram mais de 170 mil. E eu estava lá!"

Sim, era desconfortável, inseguro, às vezes humilhante. Mas dá uma saudade danada. Miseráveis, poderiam ter, pelo menos, preservado a nossa "estátua de Buda"! Peço licença e tomo emprestado o nome do livro de Edilberto Coutinho para dizer: Maracanã, adeus.






por Mauro Cezar Pereira, blogueiro do ESPN.com.br

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