sexta-feira, 8 de junho de 2012

Ondas para poucos em Fiji

A pesada onda de Fiji
A pesada onda de Fiji
Crédito da imagem: Kirstin/ASP

Depois de três dias sem competição nas ilhas Fiji, a quarta etapa do Circuito Mundial de Surfe voltou para a água nesta sexta-feira (tarde de quinta no Brasil). Como o previsto, grandes e pesadas ondas chegaram para alegria de uns e desespero de outros. Uma verdadeira operação de guerra foi montada para proteger a estrutura do campeonato e deixa-la pronta para o reinicio das disputas e a transmissão ao vivo para todo o mundo. Ao todo foram 80 minutos de competição, algumas ondas surfadas, um atleta machucado e mais uma paralisação. O surfista em questão foi Raoni Monteiro, que mostrou atitude ao encarar o tubo mais pesado do campeonato, mas pagou o preço na saída, quando sentiu o peso daquela água toda na cabeça. Abandonou a bateria com o joelho machucado e a competição com seus U$7 mil dólares no bolso. 

Para quem não sabe, todo competidor do WCT recebe uma premiação em dinheiro, mesmo que fique na última colocação. Nada mais justo, se pensarmos que estão ali para fazer um show para os espectadores. A última onda de Raoni Monteiro foi um daqueles momentos que pouquíssimos surfistas no mundo podem proporcionar: Atitude frente a uma montanha de água caindo sobre uma rasa e afiada bancada de corais. E, graças à tecnologia e ao trabalho incessante de alguns profissionais, pode ser vista por todo o planeta ao mesmo tempo.

Aliás, o simples fato de encarar condições como esta e surfar ondas deste nível é para poucos. Apenas os mais corajosos e preparados Big Riders ou os selecionados pelo chamado Dream Tour têm o privilégio e, diga-se de passagem, as condições técnicas para surfar ondas como estas e não se machucar.

Com a elite do circuito mundial com apenas 32 surfistas e outros quatro convidados por evento, pode-se realizar competições nas mais extremas condições sem correr o risco, ou pelo menos minimizá-lo, de uma tragédia acontecer ao vivo para o mundo. Isso me fez lembrar das ideias que sempre tive sobre os eventos de voo-livre.

Sem querer procurar causas ou culpados, os acidentes em campeonatos de parapente e asa-delta sempre me fizeram pensar que a parte competitiva do esporte caminhava por um caminho equivocado. O foco dos organizadores e associações sempre foi o de tentar o maior número de inscritos possível e buscar incluir cada vez mais gente no céu. Uma forma de "colorir" as cidades por onde os eventos passam. No entanto, isso impedia que os eventos acontecessem em locais de condições extremas. Muita gente no ar, muita gente despreparada correndo riscos.

Comparando com o surfe, um esporte que envolve menos riscos - por maiores que eles sejam em condições como as de Fiji -, o voo livre deveria ter competições com participação mais limitada e, assim, poder realizar eventos em picos de condições extremas, como Brasília, Quixadá, Cusco, entre outros. Se o surfe, com um número muito maior de praticantes no mundo, tem uma competição de elite com apenas 36 surfistas, por que o voo, que tem muito menos praticantes no planeta, tem que ter 150 em um só evento?

Por causa de uma série de acidentes, recentemente a FAI proibiu a utilização de parapentes protótipos com apenas duas linhas em competições internacionais. De uma hora para outra, pilotos ficaram sem equipamentos para competir e menos marcas para apoiá-los. Praticamente ao mesmo tempo, surgiu um movimento dos renegados no Brasil. Pilotos que voam esses protótipos começaram a se organizar para uma competição só dos excluídos e, de certa forma, começam a caminhar numa direção que acredito ser a mais eficiente para o esporte. Um número menor de pilotos, um pico de boas condições e só gente com técnica suficiente para garantir certa segurança ao evento. Porque, afinal de contas, quem faz a segurança no esporte é quem o pratica e não o equipamento ou o local da prática.


Visual de Cambuquira, onde será o campeonato dos Renegados

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