segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Orgulho catalão e viés político marcam clássico entre Barcelona e Real Madrid

Torcedores do Barcelona fazem um mosaico com as cores da bandeira da Catalunha

A inscrição em um dos setores do Camp Nou deixa bem claro que o Barcelona é mais do que um clube. O clássico de domingo contra o Real Madrid ressaltou a estreita ligação entre o clube de futebol e a política, evidenciada pelo lado do nacionalismo catalão na antiga briga com a capital. Além do reforço na questão separatista, também houve espaço para outro tipo de protesto extracampo.

A grave crise econômica que atingiu a Europa e teve a Espanha como uma de suas principais vítimas fortaleceu o sentimento catalão por sua independência. O clássico deste domingo entre Barcelona, símbolo da resistência da Catalunha, e Real Madrid, um dos maiores representantes da identidade espanhola, serviu como palco para manifestações.

Um grande mosaico, formado por cerca de 98 mil cartolinas, formou a bandeira da Catalunha. Outros atos favoráveis à independência da Catalunha já haviam sido vistos recentemente nas arquibancadas do Camp Nou, durante as partidas contra Spartak Moscow (Liga dos Campeões) e Granada (Campeonato Espanhol).

Ainda no clássico, durante o primeiro tempo, os torcedores do Barcelona entoaram um canto no qual pediam a independência catalã. A manifestação durou cerca de um minuto. Além disso, vários torcedores exibiram bandeiras da Catalunha independente (formada por listras vermelhas e amarelas, alternada com um triângulo azul e uma estrela branca), que é um pouco diferente da versão original.

Apesar da forte conotação política do clássico, Tito Vilanova, treinador do Barcelona, tentou minimizar este viés. “Se em algum momento é preciso discutir temas políticos, será em outro lugar. Uma coisa é que haja grande rivalidade, mas isto é esporte, não tem nada a ver com política. É um jogo de futebol. Tudo de mais que puder acontecer, será em outro lugar”, afirmou.

Além da questão sobre a independência da Catalunha, outro fator extracampo chamou a atenção para o clássico. A diretoria do Barcelona convidou o soldado israelense Gilad Shalit para acompanhar a partida no Camp Nou, mas o gesto provocou a revolta dos palestinos.

Um grupo de manifestantes organizou um protesto em frente ao consulado espanhol em Jerusalém. Munidos de cartazes contra o Barcelona, eles mostraram sua revolta com a atitude do clube. Shalit foi mantido em cativeiro pelo grupo terrorista Hamas durante cinco anos e foi libertado em 2011, após Israel aceitar um acordo para soltar mais de mil guerrilheiros palestinos.

Em campo, Lionel Messi e Cristiano Ronaldo brilharam e marcaram os gols de suas equipes no empate por 2 a 2. Fora dele, os torcedores também se destacaram neste clássico cujas fronteiras são bem maiores do que as linhas de qualquer gramado.

CAMP NOU E BARCELONA: SÍMBOLOS DO ORGULHO E DA TRADIÇÃO CATALÃ

JOSE JORDAN/AFP PHOTO

Em setembro de 1957, o Barcelona inaugurou seu estádio. O Camp Nou logo se tornou mais do que o local dos jogos do clube como mandante. Na época, a Espanha vivia sob o regime ditatorial de Francisco Franco, que se tornou uma ameaça à identidade da Catalunha. O ditador impôs o castelhano como idioma oficial e passou a perseguir e reprimir com violência qualquer tipo de manifestação que ameaçasse a unidade nacional. O estádio do Barça era um dos poucos lugares nos quais se podia falar em catalão e manter viva a tradição local com segurança. O time virou um dos maiores representantes dos valores do povo catalão contra o poder do governo de Madri.

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