quinta-feira, 3 de abril de 2014

Cristóvão chega disposto a mudar o Fluminense: 'O time pode muito mais'

Cristóvão Borges Flu (Foto: Nelson Perez / Fluminense FC)

Cristóvão Borges chegou ao Fluminense, na tarde desta quinta-feira, decidido a não perder tempo e com a sensação de um iniciante. Apresentado pelo vice de futebol, Ricardo Tenório, como substituto de Renato Gaúcho, o treinador, ex-Vasco e Bahia e que assinou contrato com o Tricolor até o fim do ano, começou a trabalhar logo após coletiva realizada nas Laranjeiras. Com as atenções iniciais voltadas ao jogo de volta contra o Horizonte-CE, dia 10, a missão imediata é evitar uma eliminação na primeira fase da Copa do Brasil.

Cristóvão assume com a responsabilidade de dar padrão de jogo ao time, mas já sob risco de queda na segunda competição mais importante do país. Pior: chega sem o aval do presidente da patrocinadora do clube, Celso Barros, que não queria a demissão de Renato. Embora em diversos momentos da coletiva tenha se classificado como um iniciante, alguém que ainda está aprendendo com profissionais mais gabaritados, demonstrou confiança na possibilidade de mudar o quadro.

– É um desafio grande pelo tamanho e pela qualidade do Fluminense. Mas o clube e o time têm potencial para corresponder. Todos vocês falam que o time pode muito mais, e eu acho que pode muito mais. Estou aqui, espero que possa fazer isso acontecer. A vontade é grande, estou muito motivado para isso. E sabendo da qualidade dos jogadores, o desafio me deixa muito motivado. É um desafio, temos de tirar essa vantagem, o time tem condições. Agora temos que tirar a vantagem. O time tem qualidade, potencial e força.

NOVO TÉCNICOCristóvão fala sobre o desafio que terá à frente do Flu


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REFORÇOSPara Cristóvão, elenco é de qualidade, mas precisa de acertos

O novo treinador tricolor falou diversas vezes em motivação, em superar desafios. E eles não são poucos: um time em busca de recuperação, um clube com os bastidores em ebulição, uma torcida em busca de respostas. Cristóvão, no entanto, parece não se preocupar. Com seu jeito sereno, arregaça as mangas e encara como um degrau a mais em sua carreira.

– Estou ansioso, feliz, contente, com uma sensação de iniciante. É um grande desafio, uma grande oportunidade, e farei de tudo para segurar bem. Penso muito na minha carreira. Quando terminei o Brasileiro no Bahia, aquilo me deu enorme contribuição. Foi um trabalho muito bom. Pensei, sonhei dar um passo maior. Por isso esperei, e tive outras propostas. Apareceu o Fluminense, compatível com o que desejava. Vou dar tudo para dar certo.

Cristóvão Borges posa já com o uniforme de treino do Fluminense (Foto: Nelson Perez / Fluminense FC)

O acerto entre as partes foi rápido. Ocorreu na quarta-feira, mesmo dia em que o Tricolor anunciou a saída de Renato. O presidente do clube, Peter Siemsen, e o vice de futebol, Ricardo Tenório, fizeram valer a sua vontade de troca de comando superando o desejo de Celso Barros, que desejava a continuidade do trabalho mesmo após a eliminação no Carioca, na semifinal contra o Vasco. A queda de braço, aliás, tornou a relação entre clube e Unimed-Rio delicada. É a maior crise em 15 anos, e há chances de não renovação do contrato no fim de 2014, quando ocorrerá a avaliação do vínculo – em entrevista a uma rádio, o presidente da patrocinadora classificou como covarde a atitude de Siemsen.

Ao contrário da apresentação de Renato, técnico que Celso Barros queria, o presidente Peter Siemsen não esteve na chegada de Cristóvão Borges, treinador bancado por ele. Sobre o conflito, Cristóvão ergueu a bandeira branca. Torce pela união dos poderes para a recuperação do clube.

– O desejo é ver o Fluminense bem, ganhando. Vamos somar forças para isso.

Trata-se de uma volta ao Tricolor. Agora, Cristóvão é treinador. A passagem como jogador foi de sucesso. De 1979 a 1983: com 100 jogos, 26 gols e um título do Carioca. O auge foi um golaço contra o Flamengo de Zico em clássico no Maracanã no primeiro ano de clube. O agora treinador tentará repetir bons trabalhos feitos em outras equipes, especialmente no Vasco.

"O clube e o time têm potencial para corresponder. Todos vocês falam que o time pode muito mais. Estou aqui, espero que possa fazer isso acontecer. Vontade é grande, muito motivado para isso."
Cristóvão Borges

Ele saiu do Cruz-Maltino ao pedir demissão em 10 de setembro de 2012, após derrota por 4 a 0 para o Bahia pelo Brasileirão. Ficou pouco mais de um ano no cargo. Assumiu o comando da equipe em 28 de agosto de 2011, quando Ricardo Gomes sofreu um AVC durante o clássico contra o Flamengo. Desde então, saltou do posto de auxiliar para o de técnico titular. Dirigiu a equipe em 78 partidas, com 41 vitórias,18 empates e 19 derrotas, um aproveitamento de 60,2% dos pontos disputados. Foi vice do Nacional em 2011. Caiu nas quartas da Libertadores. Ambos com resultados adversos para o Corinthians.

Depois, passou um período sem trabalhar. Até assumir o Bahia em 17 de maio de 2013 após a saída de Joel Santana, resultado de goleada de 7 a 1 para o Vitória na final do Baiano. Livrou a equipe do risco de rebaixamento na Série A. Disputou 42 partidas. Conquistou 14 triunfos, 13 empates e 15 derrotas, aproveitamento de 43,6%.
DIÁLOGOCristóvão diz que ter sido jogador facilita no trato com medalhões


PARCERIATreinador deixa aberto o canal de diálogo com o patrocinador


PRESSÃOCristóvão diz que momento do time não o preocupa

Confira a íntegra da entrevista:

Qual o tamanho do desafio? Alguns treinadores não conseguem fazer este time, tido como muito bom, render. Como se prepara para a decisão na Copa do Brasil?

O desafio é grande, pela qualidade e tamanho do Fluminense. O clube e o time têm potencial e força para corresponder. De todos vocês, de todo mundo que acompanha, ouço que o potencial é bom. Espero que consiga fazer render. O time tem qualidade e força para isso.

Que tipo de pedido foi feito à direção? Reforços?

Já existia essa necessidade. O elenco tem qualidade, mas precisa de alguns acertos. Já falamos, daremos continuidade.

A história no Fluminense. E preocupa o momento de crise?

Não me preocupa, não. Todo mundo que está a volta tem o mesmo desejo: ver o Fluminense bem. Vamos somar forças. Foi com o Fluminense que assinei o primeiro contrato como profissional. Vim como amador. Me deu muitos ensinamentos. A minha passagem aqui teve momentos marcantes. No segundo jogo, teve o Fla-Flu. Fiz um gol, um dos mais bonitos da minha carreira.

Cristóvão Borges em sua coletiva de apresentação (Foto: Fernando Cazaes / Photocamera)

Pretende buscar contato com a patrocinadora?

Estarei junto com todo mundo. O desejo de todos, como falei antes, é o mesmo. Talvez por vias diferentes, mas o desejo é o mesmo. Não tenho problema nenhum. Vamos nos juntar e correr atrás dos mesmos objetivos. Juntos somos mais fortes

Passou lista de reforços?

Claro que opinei sobre isso, mas junto com todos que fazem parte. Mas não posso falar nomes. Contratação tem várias maneiras de ser concluída. A necessidade existe. Algumas, não muitas. O grupo é qualificado. Pode mais.

Preocupa o fato de a Unimed não bancar mais contratações?

Não me preocupa. Acompanho futebol, moro no Rio e, com as conversas que tive, tenho ideia do que acontece no Fluminense. Pelo o que falamos, o que me foi passado foi positivo.

Fred e Walter podem jogar juntos?

Terei carinho por todos. A minha relação com os jogadores sempre foi boa. Vou tratar todos da mesma forma. O Fred é muito importante. Se o Felipão diz que precisa dele, imagina eu. Ele pesa, sim. Eles podem jogar juntos, sim. Vai depender da necessidade. Do que a equipe precisa. Eles podem. Mas se vão jogar, nós vamos ver ainda

Qual o grande desafio?

Mudar o quadro. Houve a desclassificação no Carioca. Os momentos recentes não foram bons. Vamos tentar transformá-los em bons momentos. Estou confiante. Qualquer treinador que chegar aqui ficará animado. Vejo muitas possibilidades, e pelas conversas que tive, pelo o que senti, todos têm a vontade de mudar. Todos estão incomodados com a atual situação.

Proposta do Oriente Médio?

Eu penso a minha carreira e tenho a necessidade de permanecer no Brasil. Preciso solidificar a minha carreira. Não foi a primeira oportunidade que tive para vir. Me sinto bem, em casa. As outras vezes não aconteceram, mas não vem à tona. Isso fica para trás

Qual o motivo para toda a confiança?

Não tenho a pretensão e nem quero me comparar a outros treinadores. Em relação a eles, sou aprendiz. Procuro me informar e estudar. Estou confiante. Aceitei o desafio pelo potencial que vejo. Estou aqui. Aceitei. Estou feliz.

Teve contato com os jogadores?

Ainda não. Vou falar com eles logo depois. Cheguei muito cedo, ainda não os vi

Sente-se pressionado pelas recentes trocas de treinador?

Nada. Olho para a frente, espero que seja coincidência. Que não aconteça comigo. Espero que eu possa desenvolver o meu trabalho

Renato foi criticado por não fazer coletivos...

Farei o que fiz nos clubes pelos quais eu passei. Vou procurar repetir. Foi bem aceito. Espero que eles entendam e aceitem. Isso acontecendo, as chances de darem certo aumentam

Você é top no Brasil?

Não. Sou iniciante. Esses citados são referências. Eu observo, aprendo. Procuro enriquecer o meu trabalho. Me interesso muito em aprender

São 15 dias até o Brasileirão

Vamos aproveitar da melhor maneira possível. A primeira tarefa é o Horizonte. Depois, o Brasileiro. Queremos tirar a vantagem. Temos condições e vamos nos preparar muito bem

Quais os projetos de mudanças no clube?

Não se pode chegar com nada pré-estabelecido. Não posso impor nada. Tenho de conhecer o meu grupo, mas sou adversário há três anos, conheço bem. Vejo só de jogar contra. Vou analisar isso, ver de qual maneira podemos ser eficientes, estudar o elenco e fazer render na plenitude

Como será hoje?

Estou ansioso, sensação de iniciante. É um grande desafio. Grande oportunidade. Farei de tudo para encerrar bem

Sonhava com isso?

Claro. Quando terminei no Bahia, sabia que aquilo teria boa contribuição e valorização da carreira. Sonhei em dar um passo maior. Tive paciência e esperei. Surgiram outras oportunidades, mas esperei. E agora aconteceu o que eu queria

Pode reeditar a dupla com o Ricardo Gomes? Ele como executivo?

Sempre. O futebol precisa do Ricardo. Uma pessoa com a inteligência e a capacidade dele. O futebol precisa. Não sei nada sobre isso. Se tiver a oportunidade, adoraria

A realidade atual lhe deixa pressionado?

Foi ontem mesmo o primeiro contato. Após o anúncio da saída do Renato, me ligaram. Estou acostumado com a pressão. Se chega em time que ganha, tem de manter. Isso não é fácil, nem simples. O mesmo acontece no contrário. Isso é assim. Estou acostumado. O alento é ter a chance de responder isso de forma positiva

Fluminense tem obrigação de avançar na Copa do Brasil?

O Fluminense tem que passar porque participa de campeonato para ser campeão. Nós queremos ganhar a Copa do Brasil, então temos que passar. Ainda mais pelo resultado, o Horizonte tem uma vantagem que precisamos tirar. O Fluminense joga para ganhar, participa para ganhar, time de ponta, de alto investimento. Tem compromisso com vitória, com título, tem que passar.

Renato optava por três volantes e deixava Conca sobrecarregado. Qual o esquema que pretende adotar?

Se o Renato fazia assim, tinha razões para isso. Aquilo que imagina ele acredita e faz. O que vou precisar é olhar. O Fluminense é um time de muita técnica, muita qualidade, tem uma essência ofensiva. No futebol nós buscamos equilíbrio. Não podemos perder essa característica, desde que não ofereça facilidade aos adversários. É essa a busca, a procura, vendo a característica de jogadores que nós temos.

FONTE: GLOBO ESPORTE

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