domingo, 12 de janeiro de 2014

Alemão com jeitão suíço, Hitzfeld completa 65 anos como 'inimigo' de Manaus e 'amigo' de Bayern e Dortmund



"Acho quase irresponsabilidade termos de jogar futebol em um lugar assim, no meio da selva amazônica. Acredito que o fator determinante nesta escolha tenha sido econômico."

Jurgen Klinsmann, técnico da seleção dos Estados Unidos, e Roy Hodgson, da Inglaterra, já haviam criticado Manaus como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. O clima e a distância preocupam, é a sede a ser evitada, disseram. Mas nenhum foi tão veemente quanto o dono da frase acima: Ottmar Hitzfeld.

O treinador da Suíça foi direto na ‘carne' manauara ao questionar o lugar, não o clima, em entrevista à rádio alemã SWR1. "Ainda teremos que voar por cinco horas para jogar lá", lamentou, prevendo uma possível desvantagem na Copa.

Uma preocupação para ele importante não apenas no campo esportivo, mas pessoal também. Hitzfeld tem história com os suíços. Nasceu em Lorrach, quase divisa com o país. Por muitos anos, nas décadas de 70 e 80, morou, jogou e treinou por lá. Em 2008, assumiu a seleção para fazer história. Classificou o time para a Copa do Mundo de 2010 e venceu na estreia do Mundial a favorita Espanha. Nas eliminatórias para o Mundial de 2014, terminou líder e invicto. É, apesar de ser nascido na Alemanha, um cidadão suíço quase convicto.

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Em 97, comemorando o título da Champions com o Dortmund

Mas, ao contrário do que diz o folclore, ele não é neutro como o país centro-europeu - nem em seus posicionamentos, nem no esporte. Em uma época em que o futebol alemão e a Bundesliga surfam em popularidade, o coração do treinador é dividido em duas partes. De um lado, pulsa a cor (ou cores) do aurinegro Borussia Dortmund. Do outro, o vermelho dos bávaros do Bayern de Munique.

E, em uma época em que a rivalidade das duas equipes que dominam a Alemanha também está à flor da pele, Hitzfeld consegue ser amado por torcedores dos dois clubes. Mas como?

"Dortmund x Schalke é importante?"

Em 1991, um clima de incredulidade dominava a torcida do Dortmund. Depois de mais uma temporada decepcionante no Alemão - 10º lugar -, o clube resolveu apostar em um treinador alemão ("Alemão? Mas ele não mora na Suíça?") desconhecido para findar um jejum de 28 anos sem ganhar a liga local.

A desconfiança aumentou quando, na quinta rodada da Bundesliga, o Dortmund perdeu por 5 a 2 para o arquirrival Schalke 04. Na época, Hitzfeld não tinha captado a dimensão do tropeço. "Eu não tinha ideia de quão importante era o clássico. Estava morando na Suíça há mais de 20 anos, não sabia nada sobre o Dortmund. Ninguém tinha me dito que esse é o jogo que não se pode perder", explicou em entrevista concedida no ano passado à ESPN americana.

Hitzfeld não caiu em descrédito. Em campanha de recuperação, levou o clube ao segundo lugar e, consequentemente, conquistou uma vaga na extinta Copa da Uefa. Paz restaurada em Dortmund. E que seria mantida e teria seu auge nos seguintes: dois títulos da liga alemã (1994-1995 e 1995-1996), duas Supercopas (1995 e 1996) e, para fechar com chave de ouro, uma Uefa Champions League em 1997. O suíço - ou melhor, alemão - tinha a eterna gratidão da torcida aurinegra.

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Em 2008, na despedida definitiva do Bayern, Hitzfeld chorou

O melhor treinador do mundo

Depois de atuar um ano como diretor de esportes do Dortmund para ganhar um descanso dos atritos do dia a dia com os atletas, Hitzfeld recebeu um convite para assumir o Bayern de Munique. Aceitou. Os dirigentes do time bávaro não esperavam mudanças táticas em relação ao antecessor, o italiano Giovanni Trapatonni. Queriam um jogador que soubesse lidar com um elenco recheado de estrelas e jogadores experientes.

Kahn, Linke, Lizarazu, Scholl, Effenberg, Élber. Algumas das estrelas do elenco, que ainda tinha um ascendente Jeremies e outros jogadores bem estabelecidos, como Markus Babbel. Uma missão espinhosa. Mas que foi bem dominada por um técnico. De cara, levou o título alemão - o primeiro de seus quatro em sua primeira passagem pelo clube. E, tal como no caso do Dortmund, teve seu auge em 2001, com o título da Champions League.

Saiu do clube em 2004 e se afastou do futebol. Por necessidade. Como revelaria mais tarde a vários veículos de comunicação, disse que se sentiu aliviado quando o Bayern anunciou que não renovaria seu contrato. Estava com a chamada síndrome de burnout, uma condição que leva a esgotamento físico e mental extremo e causa depressão. "Não tinha forças para romper o acordo, mas fiquei aliviado quando o Bayern pôs um fim na nossa relação", disse, ao site alemão Sport1.

Mas Hitzfeld voltaria ao Bayern em 2007, em caráter emergencial após a demissão de Felix Magath. Uma emergência que virou emprego para a temporada 2007-2008, quando venceu o Alemão e a Copa da Alemanha. Algo que possibilitou, enfim, sua ida para a seleção suíça, um emprego mais tranquilo e sem os atritos diários do mundo da bola.

65 anos

No dia 6 de dezembro, Hitzfeld viu a Suíça, cabeça de chave do grupo E da Copa, ficar ao lado de França, Equador e Honduras. Um grupo acessível para alcançar a segunda fase do torneio. O que ele achou? "Um grupo muito igual e parelho com times de diferentes qualidades".

O homem que é amado por duas torcidas tão diferentes, que conquistou tudo pouco a pouco, que foi o segundo técnico a conquistar a Champions por dois clubes diferentes e não se furta a criticar locais que o desagradam deu uma resposta padrão. Não tomou partido, não foi otimista nem pessimista.

Hitzfeld, que completa 65 anos neste domingo, 12 de janeiro de 2014, permaneceu neutro. Como é conhecida, pelo folclore, a seleção que comanda e o país em que mora. Mais suíço, impossível.

FONTE: ESPN

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